2005/10/04

Esperança

Às vezes há factos que justificam o esforço que se faz a "blogar" as próprias opiniões. Hoje alguém chegou a este meu texto vinda do Brasil através desta pergunta no Google "Preciso fazer um aborto. O que devo fazer?"

Será que leu o que escrevi? Será que ponderou melhor? Será que ajudei a salvar uma vida?

2005/10/02

As minhas escolhas para o Porto

A campanha nos últimos dias solidificou a opinião que tenho vindo a exprimir n'A Baixa do Porto. O meu raciocínio para decidir o meu voto é, resumidamente, este que apresento a seguir.

1) Votar em João Teixeira Lopes está fora de causa. Além de propostas inaceitáveis (a moratória à construção, por exemplo), tem uma postura mais de contestação a Rui Rio do que construtiva, e não convenceu como candidato a presidente. Tem também a enorme desvantagem de pertencer a um partido que escolheu como líder Francisco Louçã, cuja demagogia e desonestidade intelectual são para mim insuportáveis.

2) Rui Rio não é uma boa opção para o futuro. Votei nele nas eleições anteriores (e, em face das alternativas que havia na altura, continuo a achar que fiz bem) mas, hoje, já não é a pessoa indicada para Presidente da Câmara. Fez algum bom trabalho: por exemplo “tapar os buracos” que vinham do executivo anterior e tratar de alguma arrumação interna da autarquia (se bem que muito incompleta). Contudo, a energia para romper com os hábitos anteriores transformou-se em autismo: as opiniões alheias em geral só são boas se forem iguais às dele, “ou ele ou o caos”, o povo não está preparado para perceber o que é preciso fazer, etc. Tal e qual Fernando Gomes nos seus piores momentos. Falhou num aspecto que era fundamental: tornar públicos, e consequentemente muito mais transparentes, os procedimentos internos da autarquia.
Rui Rio não concebe uma actuação política que não seja “à martelada”. Cultiva o conflito com inúmeros sectores sociais e, mesmo que por hipótese pudesse ter alguma razão, os fins não justificam estes meios. É que se ao menos conseguisse resolver os problemas, ainda se compreendia. Mas para deixar tanta coisa encravada… Veja-se a triste história do PDM, que por falta de um consenso negociado atempadamente continua sem entrar em vigor. Veja-se o túnel de Ceuta e a patética cena dos montes de terra em frente ao Soares dos Reis. Veja-se a “bomba-relógio” das indemnizações por causa dos terrenos do Parque da Cidade. Etc., etc.
Rui Rio está actualmente mais à-vontade a responder às críticas dos adversários do que a apresentar as suas ideias próprias, assumindo uma agressividade doentia e um sarcasmo a roçar a boçalidade. Não estava preparado para conviver com uma oposição irresponsável e destrutiva como foi a que ele teve neste mandato: a permanente guerrilha em que viveu levou-o a fechar-se sobre si próprio e a tornar-se igual nos defeitos aos que antes criticava.
Outro aspecto em que a desilusão foi total diz respeito à nova equipa agora proposta! Como é que Rui Rio pretende governar a autarquia assim?

3) Francisco Assis teve um mérito indiscutível: promoveu o debate sobre a cidade junto da sociedade civil, ouviu aquilo que as pessoas do Porto pensavam. Isto marcou uma diferença radical em relação a Rui Rio, pela positiva. Também me surpreendeu pela positiva na equipa que propõe para o executivo. Libertou-se do aparelho do PS, certamente causando atritos internos bem fortes – mas pelo resultado valeu certamente a pena.
A par destes pontos fortes, tem no entanto alguns fracos que eu tenho vindo a assinalar.
a) A excessiva radicalização do discurso contra Rui Rio: é tudo mau, tudo mau… Assis deveria ter igualmente assumido com clareza os erros antigos do PS e as dificuldades que ainda hoje se sente por causa da “tralha do passado”.
b) A insistência num tipo de intervenção estruturante e orientador da autarquia para a qual ela ainda não tem meios que lhe garantam a eficácia do esforço, sem perceber que a única postura realista é mais liberal, deixando a sociedade civil “mexer-se”.
c) A opção por projectos errados: o Media Parque e o Parque Tecnológico de Ramalde são (maus) exemplos de actuação “à socialista” – quer aproveitar o próximo Quadro Comunitário da pior maneira, estabelecendo os objectivos à medida dos apoios previsíveis por causa do “choque tecnológico”.
d) A profusão de promessas do PS, que nem deixa perceber quais as verdadeiras prioridades. Francisco Assis precisava de ouvir Maria José Nogueira Pinto para perceber que não é com uma chuva de iniciativas isoladas (100 casas aqui, um parque ali, um media parque acolá…) que se faz reviver uma cidade.

4) Rui Sá tem sido o candidato mais equilibrado. Apresenta as suas opiniões com serenidade, conhece bem o Porto, tem experiência de resolver problemas concretos na cidade, sabe ouvir os munícipes. O seu programa (ver também aqui), não tendo o meu acordo em todos os pontos, é razoável: não é excessivamente ambicioso nem demasiadamente modesto. Tem atenção às “coisas simples”, que eu veementemente defendo como prioritárias. O papel da autarquia não é procurar ter protagonismo (substituindo-se à sociedade civil), mas sim permitir que as pessoas do Norte o tenham. Aliás, o “protagonismo” não deve ser um objectivo, mas sim uma consequência de o Porto estar a funcionar bem, ter uma economia pujante, ser um bom local para viver.
Rui Sá é sistematicamente acusado de ter sido conivente com a gestão de Rui Rio. É verdade. Mas afinal que alternativa é que havia? Deveria ter ajudado a passar o poder para o PS que existiu até “antes de Assis”? Isso seria pior ainda! Em minha opinião Rui Sá fez o que, nas circunstâncias, melhor havia a fazer: tentar aproveitar as boas ideias de um lado ou do outro, tentando gerar maiorias pontuais com o PSD ou com o PS de acordo com o bom senso. Que mais poderia ter feito? Com quem poderia ter feito diferente?
Rui Sá é dos quatro candidatos a pessoa mais indicada para congregar esforços com as restantes forças partidárias, facilitando a obtenção de decisões num executivo sem maioria absoluta. Não sei se daqui a quatro anos estas características serão as mais importantes mas, agora, no estado em que a cidade está, o que precisamos é de alguém que não complique e que faça o que é preciso fazer. A afirmação da cidade na região, no país e até na Europa decorrerá do sucesso que conseguirmos em resolver os nossos próprios estrangulamentos, muito mais do que das estratégias grandiosas que possamos delinear.

Posto isto, neste momento estou tentado a votar assim:
  • Câmara Municipal – CDU (Rui Sá)
  • Assembleia Municipal – PS
  • Junta de Freguesia – PSD.
Para mim, que costumo votar PSD, é uma absoluta novidade esta variedade de partidos nas minhas escolhas! Mas as autárquicas são as eleições em que os partidos são menos relevantes - as minhas opções não têm em conta as cores partidárias mas sim as ideias de âmbito local e as pessoas concretas que as poderão levar à prática.

Para a Assembleia Municipal quer o PSD quer o PS apresentam cabeças de lista muito bons, possuindo elementos de valor entre os candidatos a deputados municipais (misturados também com algumas "nulidades"...) Quanto às restantes forças políticas, não tenho opinião formada pois não conheco a maior parte das pessoas em causa. A minha opção para a Assembleia vai neste caso para o PS para dar um sinal claro da vontade de mudança que é necessária para a cidade, servindo ao mesmo tempo de contraponto ao meu voto na CDU para o Executivo. Estou confiante que, independentemente do resultado, desta vez se vai pôr termo à pouca-vergonha em que se tornaram as sessões da Assembleia Municipal, onde há agora um total desrespeito pelos munícipes e pelos princípios básicos de decência.

O meu voto não tem em conta aspectos meramente tácticos, em função de sondagens ou expectativas de resultados. Voto em quem acho que devo votar, independentemente daquilo que os outros munícipes façam. Se não for assim, como poderemos saber ao certo aquilo que verdadeiramente queremos?

A abstenção significa para mim ausência de civismo e portanto nunca sequer a coloquei como hipótese. O voto em branco, ao contrário, revela de forma clara e inequívoca a contestação ao sistema, que se justificaria por exemplo se todos os candidatos fossem absolutamente indignos do cargo a que concorriam. Não é o caso. Concordemos ou não com eles, são pelo menos pessoas honestas.

Votar num partido ou num candidato não é sinónimo de concordância plena. Não é sinal de que é a opção ideal para a cidade. Quer apenas dizer que, em face das candidaturas que apareceram, não se abdica de influenciar directamente o destino da cidade através deste meio que a Democracia nos oferece. Claro que a intervenção cívica é uma alternativa igualmente a utilizar, mas porquê desperdiçar também esta oportunidade? Bons ou maus, afinal não será absolutamente indiferente qual dos candidatos irá assumir o cargo de presidente da Câmara.

Votemos em consciência e, em função dos resultados, logo se vê como poderemos construir o futuro.