2010/03/12

Somos os melhores em tudo

O partido com que o cidadão se sente identificado nas eleições legislativas e europeias não é necessariamente o mesmo que defende os seus interesses locais

Em Democracia a participação política dos cidadãos não é exercida só através dos partidos, mas eles são a ferramenta principal. As pessoas com interesses compatíveis entre si agrupam-se em estruturas que os defendem, gerando massa crítica de intervenção. Apresentando-se a eleições ganham a legitimidade do voto e, em caso de maioria, conquistam o direito de implantar as propostas sufragadas. Quem não pertence a um partido opta por reservar para si apenas a escolha final nas eleições; a construção das várias alternativas terá sido delegada ao interior dos partidos. Neste contexto, quem pretende ter uma intervenção política mais activa deve geralmente inscrever-se como militante. Adquire assim o direito de votar para a escolha dos dirigentes, do programa e dos candidatos a deputados ou autarcas.

Acontece que o partido com que o cidadão se sente identificado nas eleições legislativas e europeias não é necessariamente o mesmo que defende os seus interesses locais. Não é razoável exigir que pessoas que comungam de uma mesma linha de pensamento relativamente à política nacional ou europeia (Governo, Assembleia da República, Parlamento Europeu) alcancem consenso quanto à gestão da sua freguesia ou município. Os assuntos tratados nas autarquias locais são em grande parte completamente independentes das opções de relevância mais alargada.

Por isso os partidos, com projecção nacional, não devem impor fidelidade de voto também local. Se são assuntos distintos, os cidadãos precisam de ter sempre a liberdade de escolher quem melhor os representa em cada nível de poder. É muito positivo que os partidos se envolvam intensamente na política local, mas não tenham a presunção de se julgar obrigatoriamente a melhor opção para os militantes que os escolheram por causa da nacional.

(publicado no JN de 2010/03/11)