Se depois das eleições vier um governo competente, não será esse curto período transitório causador de maior mal do que aquele ao qual já não nos escapamos
Uma das últimas teorias para justificar a manutenção, ainda que penosa, do governo de José Sócrates é a que nos tenta assustar com perigos de um governo de gestão. Ai que as eleições não se podem realizar imediatamente, ai que há medidas urgentíssimas que teriam de ser adiadas, ai o que seria da nossa fama nos mercados financeiros internacionais!
Mas afinal onde está o mal? Se agora continuam a ser tomadas medidas erradas, se o orçamento está longe de ser bom, se não se inverteu o descalabro, se insistem nas manobras contabilísticas para esconder dívidas do Estado, o que temos a perder? Pode acontecer que o custo de financiamento externo aumente a pique durante poucos meses mas, se depois das eleições vier um governo competente, não será esse curto período transitório causador de maior mal do que aquele ao qual já não nos escapamos. Pelo contrário, mais vale uma cura dolorosa mas rápida do que um contínuo resvalar para a desgraça.
Acredito que seria possível obter apoio alargado na Assembleia da República, enquanto se esperam eleições, para um governo com funções equivalentes às de um de gestão com um significativo acrescento: a melhoria da Justiça (incluindo simplificação radical de leis e regulamentos). Estando obrigado a concentrar-se neste assunto que é a primeira prioridade para Portugal, e relativamente ao qual o consenso será viável, aposto que um Executivo de programa assim minimalista proporcionará até excelentes resultados.
Nota final: a entrevista de Sousa Tavares a Sócrates fez-me lembrar a de Judite de Sousa a Rui Rio – se não é confrontado (e não foi) com argumentos bem sistematizados e totalmente inquestionáveis, um político profissional como estes acaba por ser “branqueado” aos olhos dos seus apoiantes por um entrevistador que facilitou no trabalho de casa.
(publicado no JN de 2010/02/25)