Não há estabilidade que justifique a manutenção de um caminho errado com gente indigna do cargo que ocupa - estabilidade em direcção ao abismo?
Generalizemos, cometendo com isso algumas injustiças: o cidadão comum está mole. Exige das figuras públicas padrões de comportamento a que ele próprio não se sujeita quando menos exposto a olhares alheios. A vivência num ambiente de ética degradada diminui o seu discernimento, a sua capacidade de indignação. As pequenas malandrices enquanto cidadão comum são precisamente a escola que prepara as acções em grande escala dignas de escroques que as circunstâncias da vida tornaram possíveis a alguns.
O que fazer quando as instituições parecem esboroar-se? Actuar com eficácia talvez cruel (pois a avaliação que se faz não é, nem deve ser, do âmbito rigoroso da Justiça), escolhendo rapidamente novos protagonistas. Não há estabilidade que justifique a manutenção de um caminho errado com gente indigna do cargo que ocupa - estabilidade em direcção ao abismo? O argumento de que sem uma alternativa na manga não se deve arriscar uma mudança é um resto do inevitável lastro cultural salazarista, que impele os representantes do povo a agir como se fossem seus “encarregados de educação”. A alternativa só se materializa em face da oportunidade, na medida da necessidade concreta. Uma solução aparecerá quando tiver mesmo de aparecer. Não se adie mais.
A “política de verdade” proposta, mas não praticada, pela actual direcção do PSD é um requisito essencial para qualquer governo nestas circunstâncias. Convém portanto haver memória clara do que nos trouxe a este ponto e das equipas responsáveis por isso, em especial executivo PS e oposição PSD. Quem pertenceu a essas equipas poderá certamente desempenhar papel útil no futuro, mas não haja ilusões de que essas mesmas pessoas possuem capacidade para liderar o esforço de inverter a desgraça em que estamos a cair. É altura de outra gente no PS e no PSD.
(publicado no JN de 2010/02/11)