Mesmo sem esperar por alterações às regras dos apoios sociais, as juntas de freguesia saberiam cativar com prémios não financeiros quem pegar na sachola
Faltam programas de utilização sistemática dos solos disponíveis para fins agrícolas nos centros urbanos. Algo que faça sentido dos pontos de vista económico, ambiental e, importantíssimo, da integração social. Este último aspecto é até o que mais impacto poderia ter. Que melhor opção existe para dar trabalho a quem não tem outras alternativas devido à idade, a falta de formação, ou a escassez de empregos?
Basta consultar imagens de satélite para se constatar a impressionante mancha verde no interior de inúmeros quarteirões actualmente pouco cuidados. E, no caso do Porto, tanta água que sabemos correr em ribeiras no subsolo! Mas, ao calcorrear essas ruas das cidades, encontra-se gente resignada a uma vida dependente do Rendimento Social de Inserção que, mole, nem trata da terra que tem atrás de casa nem faz manutenção aos edifícios – não se decide a ser útil.
É tarefa espinhosa convencer alguém a trabalhar se não tiver incentivos para tal. Mas, mesmo sem esperar por alterações às regras dos apoios sociais, as juntas de freguesia saberiam cativar com prémios não financeiros quem pegar na sachola (além da óbvia retribuição em produtos agrícolas). Apesar de eventuais boas intenções da Administração Pública, é aflitivo ver como se desperdiçam oportunidades simples que estão ao nosso alcance. Envolvam-se autarquias, IPSS, mercados tradicionais e cadeias de abastecimento dos supermercados de proximidade. Reunam-se competências dispersas para conseguir lançar explorações de agricultura urbana em pequena escala em conjunto com os proprietários dos muitos terrenos escondidos (ou nem por isso) no interior das cidades. Tentemos resolver problema a problema, sem adiarmos até que apareça uma qualquer duvidosa Grande Estratégia. Esta agricultura também é uma “indústria criativa”.
(publicado no JN de 2010/05/06)