Para ser útil, bastaria à ADDICT seleccionar alguns projectos que não tenham avançado e descobrir como ultrapassar as barreiras que encontraram
A ADDICT - Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas, criada em 2008 por universidades, fundações, CCDRN, etc., carece ela própria de uma injecção de criatividade. Os seus recursos humanos perdem-se no pesadelo da candidatura a programas de financiamento, insistindo nesta tragédia nacional que nos impede de gerar riqueza.
Uma agência destas só faz sentido se o “cluster” que pretende ajudar tiver grande impacto (ao menos potencial) na economia, explorando propriedade intelectual. Contudo, a ADDICT optou por restringir o seu interesse às actividades que quando muito proporcionam “copyright”, excluindo as que são rentabilizadas por registo de patentes. Troca engenharia, biotecnologia, ciências da saúde ou do mar, por “animação de bairro”, “intervenção em espaços públicos”, “festivais” e “eventos”. E propõe-se organizar conferências de especialistas em animação de bairro, intervenção em espaços públicos, festivais e eventos.
A criatividade tem de ser usada para gerar muito valor acrescentado e lucros relevantes. Para ser verdadeiramente útil, bastaria à ADDICT seleccionar alguns projectos de “indústrias criativas” que não tenham avançado apesar de parecerem válidos, analisá-los profundamente, e com os seus promotores descobrir como ultrapassar as barreiras que encontraram. Deveria também actuar como “broker” de capital estrangeiro pois, por mais milhões portugueses que se anunciem, o certo é que os investidores locais recusam financiamento a projectos que lhes são apresentados, não porque eles sejam maus, não porque não haja dinheiro disponível, mas apenas porque não se enquadram no respectivo "perfil de portfólio". Desperdiçam-se assim oportunidades sem que o país consiga encontrar meios alternativos de utilizar essa energia de que tão desesperadamente precisa.
(publicado no JN de 2010/12/02)