Até era preciso colocar o zero à esquerda do número do bilhete de identidade, senão o eleitor não era encontrado
Há já alguns anos um tio meu, ao procurar o portão de embarque num aeroporto, corredor aqui, porta ali, escada acolá, passou inadvertidamente da zona de acesso público para a reservada a passageiros sem ser submetido a controlo de entrada. Dirigiu-se então a um funcionário, alertando para a falha de segurança. O homem sossegou-o: “não se preocupe, por esse caminho ninguém vem porque não o descobre, só se fosse alguém muito mal intencionado”.
Está a passar-se algo de semelhante com a resistência à substituição dos números fiscal, de BI, segurança social, eleitor, carta de condução, etc., por apenas um. Argumentam com a privacidade e segurança do cidadão perante o Estado, esquecendo que o Estado já possui todos estes dados e só não os cruza (dentro ou fora da lei) se não quiser. Estabeleçam-se antes procedimentos seguros com um único número (já foram estudados), atribuindo permissões limitadas no acesso às várias bases de dados conforme o fim a que se destina.
Com esta profusão de números acontecem trapalhadas como a das eleições. Teria havido “um pico de acessos, um tsunami” que afogou os servidores. Só por total incompetência. Imagine-se que até era preciso colocar o zero à esquerda do número do bilhete de identidade, senão o eleitor não era encontrado! Para menos de 10 milhões de eleitores, num sistema bem montado, a exigência computacional e capacidade de transmissão necessária são baixíssimas. Usando ferramentas desadequadas e programação incompetente, o problema pode tornar-se facilmente 100, 1000, 10000 vezes pior. A informática é mesmo assim. Veja-se em 1998 a anedota da colocação dos professores, relatada em http://shortlinks.etc.pt/profs, quando afinal um velhinho computador de secretária bem configurado resolveu a questão. Nunca se subestime a estupidez humana.
(publicado no JN de 2011/01/27)