Estive a ler com atenção os argumentos de Miguel Cadilhe em resposta às objecções que eu tinha colocado a uma das suas propostas: “investir muitas centenas de milhão de euros”, “para se reduzir a escala corrente do Estado e modernizá-lo”.
No fundo concordamos: “Eu também tenho, todos temos dúvidas sobre a real vontade e a real capacidade de auto-reforma do Estado”. Só que Miguel Cadilhe está disposto a arriscar mais dinheiro, e eu não…
Das três vias referidas para a mudança, eu escolho a a) e a c). Ou melhor, a a) por força da c): a “forte imposição externa”, sendo que aqui “externa” não significaria “estrangeira”, mas sim “extra-Estado” – o poder do voto.
Miguel Cadilhe pergunta, e bem, como se financia uma mudança significativa em tempo útil. Eu tenho visto tanto, mas tanto, desperdício por parte do Estado que a simples optimização de procedimentos e decisões libertaria meios vultuosíssimos! Basta conhecer por dentro o funcionamento dum hospital, dum tribunal, dum ministério como o da Agricultura ou da Educação, para descobrir um autêntico “tesouro” que actualmente está a ser aí desbaratado.
Por isso eu tinha sugerido quatro medidas que permitiriam, a meu ver, ultrapassar a actual escassez (ou antes, o desperdício) de recursos. Não se pode entregar mais do nosso património a quem tem provado não o saber gerir!
Há outro aspecto que me parece muito importante: a própria auto-reforma do Estado deve ser uma ocasião de formação dos seus dirigentes intermédios, através do exercício do planeamento e da gestão dessa mesma reforma. Se for algo imposto “de cima” não contribuirá quase nada para a evolução dos gestores públicos e mais tarde ou mais cedo a situação degradar-se-ia. Se bastasse o exemplo alheio, sem prática pessoal, a simples observação de organizações eficientes resultaria na melhoria da máquina estatal. Mas, na realidade, só fazendo se aprende.
Não há por isso alternativa a uma reforma gradual, descentralizada, distribuída. Serviço a serviço, local a local. Recorrendo aos vastos meios que agora são dissipados, e até se sabe como.
Onde é que Miguel Cadilhe, dado o seu talento, pode ter um papel de relevo? Precisamente no apoio à restruturação de serviços importantes, mostrando-lhes como se pode fazer muito melhor com o mesmo dinheiro. Ou, em alternativa, provando como esses serviços são dispensáveis e identificando outras tarefas úteis para as quais os seus funcionários já possuam qualificações suficientes.
Mas por favor deixe em paz as nossas reservas de ouro! ;-)