2006/02/21

A negação do Holocausto

Tem sido agora discutido se se deve dar a alguém a liberdade de negar publicamente o Holocausto. O Abrupto há dias usou também isto como exemplo a propósito das caricaturas de Maomé.

Quando se fala em "negar o Holocausto" não se trata de dizer "não foram x milhões, foi só(!) metade", com alguma preocupação de rigor científico, de seriedade. Isso seria uma coisa. Outra é dizer: "não aconteceu nada" ou, alternativamente, "eles foram voluntariamente para as câmaras de gás, afinal até gostaram"...

O Holocausto foi algo que inequivocamente existiu e que teve o impacto que todos sabemos na vida particular de milhões e milhões de pessoas, provocando uma dor inimaginável por quem não viveu esse drama na pele. Acredito que ouvir negar o Holocausto seja uma violência literalmente insuportável para alguém que esteve em Auschwitz.

Entra-se portanto já no campo onde a lei deve limitar a liberdade de expressão para proteger o cidadão relativamente à sua esfera privada. Independentemente de outras razões que pudessem existir para permitir essa liberdade de expressão, neste caso concreto elas têm menor peso do que o respeito que é devido às vítimas desta tragédia. Tratar-se-á porventura de ultrapassar ou não aquilo que uma pessoa, por mais racional que tente ser, é capaz de humanamente aguentar. Seja o Holocausto ou outro acontecimento qualquer do mesmo género, quando se atingem os limites da "capacidade de encaixe" de um ser humano.

Claro que (por exemplo) os muçulmanos podem (erradamente) dizer o mesmo em relação às caricaturas de Maomé mas, em caso de divergência insanável, resta-nos o recurso à força bruta para impor o respeito pelos nossos valores fundamentais. Às vezes tem mesmo que ser.