Quando melhorarmos a nossa casa, a nossa rua, o nosso bairro, descobriremos que afinal também temos força para curar o país
Do ponto de vista de cada um de nós, os outros evoluem em média demasiado devagar. A sociedade é sempre mais lenta do que o indivíduo mas, na dose certa, esta inércia é positiva porque filtra aquilo que não resiste ao teste do tempo. Acontece que Portugal está descalibrado, perdeu a noção dos prazos, deixou-se atrasar de forma aflitiva. Por exemplo, hoje é o último dia para Cavaco conseguir terminar o seu mandato com dignidade, mas não vejo significativo desconforto na população com a eventualidade de falhar. Não por causa dele, mas pelo país.
Acabada a ilusão do futebol, não surpreende o desespero de quem está consciente do abismo para o qual caminhamos. Daí que surjam apelos a uma actuação radical (no bom sentido) por parte da Oposição, e em particular de Passos Coelho. Contudo, os dirigentes do partido não são os donos do partido. O PSD, tal como os outros, não é muito diferente do país. E se o país não está convencido de que são precisas mudanças muito profundas, nenhum partido conseguirá implantá-las. A abordagem terá de ser realista em face do que é socialmente aceitável. Eu teria provavelmente ido mais longe na “ousadia” das propostas mesmo sob o risco de alguma incompreensão social, desde que essa “ousadia” não fosse de tal ordem que se tornasse contraproducente. E o risco é mesmo esse.
É preciso envolver a população em acções que tornem evidente o poder individual, quando devidamente organizado e integrado em esforços colectivos. Nada melhor do que a reabilitação urbana, passo a passo, para o provar. Não é o estado da economia que dificulta o progresso, mas sim a deficiente colaboração entre os privados com competências complementares. Quando melhorarmos a nossa casa, a nossa rua, o nosso bairro, descobriremos que afinal também temos força para curar o país.
(publicado no JN de 2010/09/09)