Embriagados por aeroportos e TGVs, até nos esquecemos da Política Agrícola Comum
Atacou-me outra vez. Li a notícia de que nos vão proibir de comprar lâmpadas de incandescência e voltou a vontade de abandonar a União Europeia. Estabelecia-se um acordo qualquer para manter o euro, para ter livre circulação de pessoas e mercadorias um pouco ao estilo da Suíça, mas desistíamos deste desvario sistemático. Se não o país inteiro, ao menos a Região Norte. Proibir, novamente! Não é incentivar, recomendar, certificar, promover alternativas (neste caso nem sequer completamente satisfatórias). Proibir.
Pior do que a Gripe A é a febre de querer implantar à força bom-senso no cidadão, criança incapaz de tomar conta de si. Há sempre em Bruxelas quem se ofereça para baby-sitter, e em Lisboa quem insista em tratados que dispensam referendo porque os especialistas já decidiram em nome do povo. Embriagados por aeroportos e TGVs - quem se lembraria de focar a atenção num dispendioso serviço para transporte de (poucos) passageiros em vez de promover a renovação das vias férreas em bitola europeia para todo o tipo de tráfego? – até nos esquecemos da Política Agrícola Comum, sorvedouro de metade dos recursos comunitários. Coisa pouca, deixa andar...
Tanta irresponsabilidade era evitável e deve ser corrigida. Pertencer à União Europeia é vantajoso se actuarmos com sensatez dentro dela. Basta haver a coragem colectiva de mudarmos a nossa atitude: passarmos a votar, e a votar bem. Temos de arrumar a casa em Portugal, ganhando competência para intervir na Europa. É que caímos num fosso: Cavaco esgotou o prazo de validade, Sócrates nem chegou a passar pelo controlo de qualidade, a oposição continua a cheirar a mofo. Resta-nos assim aceitar que as próximas legislativas são um caso perdido, votar em branco e apostar nas seguintes. Ao prescindirmos de fazer uma escolha entre estes políticos que agora se apresentam, estaremos a criar o espaço para que outros surjam com ideias arejadas. Não vai ser necessário esperar muito, porque na próxima semana já se vai perceber que afinal ficou tudo na mesma. E isso muda tudo.
(publicado no JN de 2009/09/24)