2009/10/09

Rui, mas o Sá

A cidade não deve, repetindo o erro, empurrar a sua esperança para o próximo presidente da Câmara

O Porto é um falso mistério. A crise tem razões e culpados: decisores portuenses com grandes qualidades pessoais mas, enquanto no poder, incapazes de planear o futuro sem a muleta do Estado; empresários cuja medida de sucesso é o quão baixo conseguem pagar em vez do valor que acrescentam; uma geração avarenta na gestão dos bens e medrosa nas relações sociais. Fechámo-nos sobre nós próprios, pensámos cada vez mais pequenino. E desgraçámo-nos.
A cidade não deve, repetindo o erro, empurrar a sua esperança para o próximo presidente da Câmara. Mas a autarquia, mesmo com meios limitados, pode tratar do ordenamento do território em coordenação com os concelhos vizinhos (com os quais deveria preparar a fusão), administrar o seu património imobiliário e cultural, reunir esforços privados em actividades que beneficiem o Porto.

Rui Rio, em quem votei no primeiro mandato, teve oito anos para perceber isto. Só em parte o conseguiu. Com uma acção por vezes meritória, estragou-a ao deixar de assimilar os sinais negativos que resultavam das suas falhas, o que o impediu de as corrigir. O corte sob fraco pretexto do magro subsídio aos cantoneiros, violando o compromisso da Câmara, foi a gota de água: assim não serve. Ao esconder o contrato do Aleixo e outros documentos supostamente públicos, lá se foi a transparência...

Elisa Ferreira era uma esperança, mas manteve um discurso agressivo que divide a cidade entre pró-Rio e contra-Rio. Não é por aí. Faltou-lhe também uma “política de verdade” que a demarcasse do PS anterior. O seu trabalho de federação das elites tem valor e deve, em qualquer caso, ser aproveitado.

Vou repetir o voto em Rui Sá, mesmo não concordando com todas as suas propostas - trabalhador, disponível para procurar soluções sensatas com outros partidos, o menos demagógico dos candidatos, o que melhor conhece o Porto. Em resumo, é tempo de mudar para alguém que perceba que esta citação é humorística: “There’s really no point in listening to other people. They’re either going to be agreeing with you or saying stupid stuff” – “Dilbert”, Scott Adams.

(publicado no JN de 2009/10/08)