2005/02/23

Metro na Boavista: os argumentos

A discussão sobre os vários aspectos de um assunto faz por vezes esquecer o essencial. Recordemos: por que é que não é aconselhável avançar no Porto para este projecto concreto de Metro na Boavista, a chamada "Linha Laranja"? Em resumo, bastam três razões.
  • Porque não resolve só por si o estrangulamento Senhora da Hora / Trindade (que esse sim é urgente tratar).
  • Porque não é a única maneira, nem a mais rápida de implantar, nem a mais barata, de desviar passageiros da Linha Azul.
  • Porque não é uma prioridade haver Metro nessa zona da cidade, havendo outros locais no Porto onde o investimento é incomparavelmente mais urgente.
A decisão é por isso muito simples e não depende de estudos adicionais. Compreendendo isto, é até supérflua a análise do impacto negativo do projecto na zona.

Mas analisemos mais alguns pormenores e as alternativas, na sequência do debate n'A Baixa do Porto de onde retiro esta informação.

  1. A Linha Laranja tem recentemente sido apresentada como "o lançamento da base futura de uma linha do metro Nascente - Poente na Área Metropolitana do Porto", ainda completamente "virtual" e sem aprovação das autoridades competentes. Faz algum sentido construir um troço de uma linha de metro antes de saber se ele vai ter a continuação que o justifica?! Sem ter sequer pronto o estudo técnico do local por onde supostamente iria passar o resto da linha? Foi precisamente este tipo de "fugas para a frente", sem planeamento sério, que provocou o estrangulamento do troço Trindade / Senhora da Hora.
  2. Os recursos não são ilimitados. Se se destinam 90 milhões de euros à Linha Laranja (já sem contar com os custos das expropriações) é porque há 90 milhões de euros que deixam de ser aplicados noutro lado qualquer.
  3. É consensual que o investimento na zona ocidental do Porto não é prioritário em relação ao investimento na zona oriental. Ninguém defende que a Linha Laranja é mais urgente do que, por exemplo, a ligação a Gondomar.
  4. O problema estrito de transporte de passageiros pela Avenida da Boavista pode ser resolvido adequadamente por outros meios que não o Metro em via exclusiva.
  5. Sendo necessário um novo viaduto que atravesse o Parque da Cidade (como é o caso do actual projecto), dois problemas sérios se colocam além do respectivo custo: o impacto no próprio Parque e os conflitos quanto aos direitos de propriedade dos terrenos onde ficaria implantado (Câmara vs Imoloc).
  6. Os estudos que foram feitos sobre as alterações de trânsito na Avenida da Boavista apenas demonstram que será viável instalar transporte em via exclusiva, seja ele qual for. Não provam a superioridade do Metro nem contemplam o impacto da consequente invasão de um grande fluxo automóvel em locais até agora residenciais.
  7. A linha de metro demora cerca de 2 anos a construir. Dois anos em obras. Dois anos de caos na zona!

Nestas condições a melhor solução para a Avenida da Boavista será criar imediatamente uma via exclusiva (o canal central) para um serviço de AUTOCARROS porque:
  • custa incomparavelmente menos do que o Metro
  • é de implantação muito mais simples e rápida
  • permite usar o actual viaduto do Parque da Cidade
  • melhora o sistema de transportes no curto prazo, e não apenas daqui a dois anos
  • liberta recursos para outras zonas mais prioritárias da cidade/região
  • não prejudica uma eventual futura instalação do Metro que substitua esta opção.

Quanto ao troço estrangulado Trindade - Senhora da Hora, transcrevo o que escreveu Francisco Rocha Antunes:
"Compravam-se as tais carruagens mais pesadas, tipo comboio suburbano, e fazia-se a ligação à Trofa e à Póvoa a partir apenas da Senhora da Hora. Com transbordo qualificado para o Metro que existe. Como existe em Campanhã entre os comboios suburbanos e o Metro. (...) o túnel a ligar a Avenida e a Estação da Casa da Música na Avenida de França é pior de certeza. (...) a solução correcta era entregar aquelas linhas à exploração da Unidade de Suburbanos do Grande Porto da CP."