Só esta faltava, o Abrupto a promover a tourada...
Este assunto, tendo uma gravidade evidentemente diferente, constitui um exemplo semelhante ao do Aborto de como as várias partes usam argumentos errados e sem lógica para defender posições por vezes correctas.
A tourada tem dois problemas.
O primeiro é ser um espectáculo bárbaro e deseducativo, mesmo que possua igualmente aspectos que consideraria “belos” não fosse o touro um ser vivo que sofre como nós. Será aceitável que se maltrate um animal para gáudio dos humanos? Acho inqualificáveis alguns argumentos que por vezes ouço, como o de que “é um combate justo”, etc., como se o touro tivesse escolhido de livre vontade entrar em duelo com o homem...
O segundo é saber se matar o touro na arena deve ser permitido ou não. Quanto a isso, o critério deve ser a minimização do sofrimento do touro. Acho preferível que ele seja abatido o mais rapidamente possível (o que seria ainda na arena), em vez de ficar em agonia até mais tarde, fora da vista do público. A luta contra os touros de morte parece-me assim completamente contraproducente pois, existindo a tourada, não beneficia os animais. Depois do público ter assistido a uma tortura lenta e cruel, a morte do touro é também um alívio misericordioso para quem assistiu a tal espectáculo.
O que está fundamentalmente errado é a tourada ser legal. Nenhuma tradição, nenhum “valor cultural”, nenhum interesse económico justifica este triste espectáculo. Como explicar a uma criança que se justifica infligir este sofrimento a um animal em nome do “domínio, da arte, da graça e do ritmo”? Tendo ela a percepção de que os humanos são tão parecidos (sem ironia) com os “bichos”, como lhe explicar: “podemos fazer isto aos bichos mas temos que tratar bem as pessoas”?