Quando se recebe uma proposta de fornecimento de serviços é habitual fazer uma comparação entre o valor proposto e um hipotético salário de trabalho dependente que corresponderia ao mesmo tempo de serviço. Essa comparação é legítima e eu, pessoalmente, baseio-me nela para determinar os valores que eu próprio proponho.
Contudo, ao fazer esta comparação é necessário ter em conta um conjunto de factores que frequentemente são esquecidos mas que quem presta o serviço tem infelizmente que prever. Daí a diferença apenas aparentemente grande entre os valores do trabalho dependente e os da prestação de serviços.
Aqui ficam abaixo alguns exemplos de custos "escondidos" para entidades empregadoras e que têm o seu equivalente também nos fornecedores de serviços. Tendo estes aspectos em conta, é também possível chegar a conclusões sobre o que seria um valor "normal" para prestação de serviços.
- Um trabalhador dependente tem 14 meses de salário por ano, o prestador de serviços cobra apenas 11 ou 12.
- A entidade empregadora desconta 23,75% do salário para a segurança social, o que não acontece quando adquire serviços, pois esse desconto é suportado pelo fornecedor.
- Um entidade empregadora deve obrigatoriamente ter um seguro de acidentes de trabalho para os seus trabalhadores. Os trabalhadores independentes têm também que o possuir e suportar portanto o respectivo custo. Em muitos casos é também necessário um seguro adicional de responsabilidade civil.
- Os custos de formação profissional (incluindo o tempo de "não-trabalho") podem ser significativos para uma entidade empregadora e também existem para profissionais liberais.
- A existência do posto de trabalho e das ferramentas a ele associadas pode atingir valores muito elevados para a entidade empregadora e também para trabalhadores independentes:
- amortização ou arrendamento das instalações e mobiliário
- computadores e licenças de software
- telefone, fax, electricidade, acesso à Internet, consumíveis...
- documentação técnica
- em alguns casos, viatura e telemóvel.
- O tempo de "conquista" do cliente não conta como "horas de trabalho a cobrar" pelo fornecedor de serviços mas é efectivamente gasto e portanto reflecte-se indirectamente.
- Há uma característica subjacente à actividade de prestação de serviços, que é o de nem sempre conseguir "vender" 100% do tempo disponível. Ao contrário, o funcionário de uma organização tem o seu salário garantido bem como hipóteses de progressão na carreira.
- Um trabalhador independente não tem uma "máquina administrativa" à qual pode recorrer tal como existe normalmente numa organização e que para ela é um custo de funcionamento: secretariado, contabilidade, apoio jurídico, etc.
- O risco acrescido de uma actividade independente só faz sentido se proporcionar receitas mais elevadas do que o trabalho por conta de outrem.
Como por parte do cliente típico não há a percepção de todos estes factores, os valores que está disposto a pagar pelo serviço são em geral muito inferiores aos que seriam justos e que são correntes noutros países mais desenvolvidos (mesmo descontando as diferenças do custo de vida).