Não se prejudique o importante por causa do urgente: a deficiente Justiça e o excesso de regulamentação são os principais problemas de Portugal
Contam os evangelhos que certo jovem, cumpridor dos mandamentos, perguntava a Jesus: “que me falta ainda fazer?”. Muitos dos que conseguem que o fim do mês chegue antes do fim do dinheiro estão com a mesma dúvida. Identificam as causas da situação difícil, mas fica a faltar algo: arriscar algum do seu dinheiro (por pouco que seja) em parceria com aqueles empreendedores que têm projectos mas não capital, sem burocracias nem esperar por enquadramentos institucionais, ajudando assim a economia a progredir. Mas param imediatamente antes desse passo. E o país fica adiado.
Ninguém tem obrigação de ser investidor ou empresário. Contudo, todos os recursos são indispensáveis para garantir o futuro do país onde queremos continuar a viver. Alexandre Soares dos Santos citou há dias uma frase notável: "good judgement comes from experience, and experience comes from bad judgement". Compreendo agora, por ter esbarrado neles, muitos dos bloqueios do país; este é um deles.
Por isso fica o desafio a quem tem património disponível: invistam! Apliquem algum do vosso dinheiro e do vosso tempo. Sem essa postura não há desenvolvimento. Um dos males de Portugal é que até aquilo que não é essencial para a sobrevivência nós temos medo de perder; isso impede a criação de riqueza e deixa-nos tolhidos na nossa pequenez. Damos conselhos aos outros, mas eles que arrisquem... No entanto é possível fazer melhor. Seguramente ganha-se mais conhecimento e, principalmente, abre-se o caminho para a recuperação. Se quem possui consciência dos problemas e os meios para agir não tomar a iniciativa, quem o fará?
Nota final - logo que o Governo mude (já não demorará muito), não se prejudique o importante por causa do urgente: a deficiente Justiça e o excesso de regulamentação são os principais problemas de Portugal.
(publicado no JN de 2010/07/15)