2004/07/01

Barroso, Santana e a confusão geral

A propósito da ida de Durão Barroso para Bruxelas e das consequências da sua decisão.

1) É bom que Durão Barroso assuma esta nova responsabilidade. É bom para ele. É positivo para a Europa (pelo menos em comparação com os outros candidatos ele parece-me uma boa escolha). É uma oportunidade de garantir que os interesses de Portugal ficam mais protegidos por alguém que os conhece bem.


2) É muito mau que o rumo de um país esteja demasiado dependente de qualquer pessoa em particular. É tempo de sermos mais "institucionais": percebermos o valor que deve ser dado aos projectos e às ideias, e só em segunda linha a quem concretamente as vai implementar. Os portugueses só resolvem os seus problemas quando pressionados, talvez este seja o estímulo que faltava para melhorar esta situação... ;-)

Este problema não se criou agora: _manifestou-se_ de forma mais vincada apenas agora. Não é Durão Barroso que o cria, são os portugueses que se furtaram colectivamente às suas responsabilidades de intervenção cívica.


3) Nem Santana Lopes tem perfil para Primeiro-Ministro (fiquemo-nos por aqui) nem é nada bom entrarmos em eleições agora. Mas, das duas alternativas, prefiro a primeira. Ganha-se algum tempo para encontrar uma solução mais definitiva, esperando que entretanto não se estrague muito do que já se alcançou.


4) Estive a consultar "quem é" o PSD. O caso é realmente aflitivo: pouquíssima gente de qualidade! "De qualidade" no sentido de ter perfil para as funções que desempenha num partido político, entenda-se. Até podem ser "muito boas pessoas" e competentes noutras actividades, onde provavelmente estão a fazer mais falta do que no PSD. Pois bem: aqueles que até agora têm estado compreensivelmente afastados da Política (nem sequer tinham com quem conversar, quanto mais fazer Política!) têm agora uma boa ocasião para se organizarem e participarem também, "tomando harmoniosamente de assalto" o PSD. :-) Ou o PS, lá por isso...


5) As manifestações...

É salutar que as pessoas manifestem a sua opinião, mas neste caso as manifestações pró e contra Santana parecem-me simultaneamente despropositadas e contraproducentes.

Despropositadas porque, como escrevi anteriormente, as soluções devem ser institucionais. Há um partido maioritário a quem foi atribuída a responsabilidade de Governo em coligação. Se a pessoa do líder muda, deve haver uma nova pessoa proposta nesse quadro e eventualmente aceite pelo Presidente da República.

Contraproducentes porque dão demasiada importância a quem supostamente não merece confiança suficiente para a missão que alguns lhe querem entregar em Portugal.

Apesar de também ter recebido uma "convocatória", não sei quem promove as ditas manifestações. Mas imagino que muitos dos que participam sejam daqueles que habitualmente não votam, furtando-se às suas responsabilidades como cidadãos. Por um lado colocam-se à margem do sistema e recusam-se a dar a sua contribuição pelos canais que a Democracia lhes fornece. Por outro, vêm-se agora queixar de que o sistema não dá resposta adequada às necessidades do país e por isso só com manifestações isto se resolve...

Aconselho a alternativa mais saudável: empenhem-se no trabalho partidário.


6) O PSD

Sejamos francos: se Santana Lopes assumir o cargo de Primeiro-Ministro é porque o PSD e o país não merecem melhor do que Santana Lopes...

De qualquer modo também não me parece que ter Santana Lopes como primeiro-ministro seja uma tragédia de proporções cósmicas. Afinal o Presidente da República está lá precisamente para limitar asneiras e infantilidades mais dramáticas. E Santana Lopes é bem capaz de surpreender muitos conseguindo uma boa equipa de ministros com uma ajudinha de Durão Barroso. Mais trágico é o facto de o PSD não conseguir ninguém melhor para primeiro-ministro.