Escrevem respectivamente Pacheco Pereira e Vital Moreira:
"A crise que nestes dias se revelou, e que já cá estava, é muito pior do que se imagina."
"Pacheco Pereira renuncia ao cargo de representante na UNESCO, para que tinha sido nomeado há pouco tempo pelo Governo cessante. É evidente a ligação desse gesto com a sua posição fortemente crítica em relação ao novo primeiro-ministro, Santana Lopes. A dignidade pessoal e a coerência nos princípios não têm preço. Ainda bem!"
1) Mau mesmo é quando a crise existe mas não se revela claramente.
2) Quem tenta fazer algo em Portugal e não consegue, das duas uma: ou desanima e desiste, ou fica a compreender quais são os problemas e portanto pode tentar soluções.
3) Eu estou a tentar soluções no meu "pequeno mundo" e elas passam por não considerar o meu espaço como sendo apenas Portugal. (Já agora, acho que foi isso que sentiu Durão Barroso e, quem sabe, também António Vitorino.)
4) O gesto de JPP é bonito e nobre (é um bom exemplo de postura pública e dignidade pessoal). Mas parece-me que se baseia num erro de apreciação do contexto, contudo. Continuo a defender, como tenho escrito aqui, que devemos adoptar uma posição mais institucional. Parece-me mal que decisões destas sejam tomadas em função da pessoa concreta que irá estar no papel de Primeiro-Ministro. O que está em causa não pode depender de fulano A ou de fulano B. É de Portugal que estamos a tratar, não é de PSL ou PP. Mais: quer se queira quer não, PSL foi _eleito_, mesmo que indirectamente. Pode-se argumentar (provavelmente bem) que não era isso que o povo queria, mas as regras que nos regulam são essas e chegou-se aqui sem violar objectivamente a Lei. O mundo é imperfeito, aceitemo-lo assim e façamos o melhor que sabemos nestas condições. Isso não é quebrar princípios nem amolecer com inércia. A única razão válida para uma "demissão" nestas circunstâncias seria considerar que o simbolismo desse acto tem o valor de um exemplo de alerta. Respeito-o por isso.