No estado em que o Estado está, quanto menos Estado melhor será o nosso estado. Pelo menos nos tempos mais próximos.
As ideias dos candidatos autárquicos sobre como a Administração Pública pode colaborar com a sociedade civil para desenvolver o país são geralmente tão claras quanto o título deste texto. Mas, tal como no anagrama acima, se calhar a matéria-prima está lá, precisa é de organização. As boas intenções sem sustentabilidade são armadilhas perigosas. De cada vez que há eleições, e ante a urgência de apresentar propostas cativantes, recorre-se a chavões da moda porque, se estão na moda, alguma justificação positiva deve haver...
Assim tem sido também com o "empreendedorismo social". No estado em que o Estado está, quanto menos Estado melhor será o nosso estado. Pelo menos nos tempos mais próximos. Daí que a iniciativa privada, quando orientada por princípios filantrópicos alicerçados em boas práticas de gestão, naturalmente mais ágil do que as estruturas públicas, surja com iniciativas em que o lucro é instrumento de intervenção social. Porque isso é sustentável. Porque é com dinheiro que se concretizam os projectos. Porque a liberdade e a justiça exigem uma economia sã. Há aqui um papel para as autarquias que, no âmbito das suas competências, poderão facilitar este esforço privado sem se tornarem dominantes.
Este conceito, tradução possível do inglês "social entrepreneurship", é válido para diferentes escalas de intervenção. Desde o micro-crédito no pequeno comércio local, ao capital de risco em grande escala, passando por investimentos de média dimensão em projectos de reabilitação urbana com o envolvimento da população, o objectivo é maximizar o impacto social. Em vez criar riqueza para acumular ou eventualmente gastar mal, procura-se o lucro para reinvestir em benefício comum, envolvendo a comunidade.
O espírito de actuação é precisamente o oposto dos grandes "planos estratégicos" de intervenção pública. A sociedade civil não precisa de "educação" nem de orientação. Importa deixá-la organizar-se e remover as barreiras que lhe foram sendo erguidas por quem convive mal com o sucesso alheio.
(publicado no JN de 2009/07/02)