O que pode um cidadão fazer para não ser mais um ausente?
Deve ser do tempo quente: abundam no país casos de "participação através da ausência".
Governo. José Sócrates, nas páginas do JN, insiste nos grandes projectos de investimento como se o Estado não tivesse já provado, com ele, não estar em condições de projectar nada. Em simultâneo, foge à responsabilidade de encontrar soluções com as autarquias locais para casos como o da Linha do Tua, que tem vindo sistematicamente a destruir. Acena com a ilusão de riqueza num lado, mas esbanja-a noutro.
Oposição. Depois de uma disputa interna no PSD ganha por Manuela Ferreira Leite porque Rui Rio preferiu dedicar-se a outros afazeres, eis que chega a altura da escolha dos candidatos ao Parlamento. Momento importante? Parece que não. Rui Rio, 1.º vice-presidente do PSD, falta ao Conselho Nacional por estar a banhos. Sabe-se posteriormente que António Preto precisa subitamente de engessar o braço, logo por azar dificultando as investigações da Polícia. Que faz Ferreira Leite? Apoia. Rio, o homem impoluto, mantém o silêncio, que para ondas já chegam as da praia e pode estar aqui uma nova hipótese de seguir para Lisboa. Pacheco Pereira, a referência, concentra-se na eleição em Santarém e nem deve ter reparado no caso.
Porto. Candidatos da coligação PSD/CDS ao Executivo camarário. Confirma-se que Lino Ferreira, o (único) vereador da maioria que não é exactamente um "yes-man" e que melhor interacção tem tido com os munícipes, vai colaborar também com esta nova lista. Como? Afastando-se "por comum acordo" com Rui Rio, que lhe agradece a simpatia.
O que pode um cidadão fazer para não ser mais um ausente? Ficam duas sugestões. Primeiro, tornar-se militante do partido com o qual (apesar de tudo) maior afinidade sinta, para internamente ser voz activa que atraia outras. Segundo, enquanto esse partido não tiver programa sensato e prática decente, votar em branco nas eleições. Mas votar, para não se confundir com abstenção desleixada. Pode demorar a passar mas, se dermos um empurrãozinho, não há mal que sempre dure.
(publicado no JN de 2009/08/13)