Embriagados por aeroportos e TGVs, até nos esquecemos da Política Agrícola Comum
Atacou-me outra vez. Li a notícia de que nos vão proibir de comprar lâmpadas de incandescência e voltou a vontade de abandonar a União Europeia. Estabelecia-se um acordo qualquer para manter o euro, para ter livre circulação de pessoas e mercadorias um pouco ao estilo da Suíça, mas desistíamos deste desvario sistemático. Se não o país inteiro, ao menos a Região Norte. Proibir, novamente! Não é incentivar, recomendar, certificar, promover alternativas (neste caso nem sequer completamente satisfatórias). Proibir.
Pior do que a Gripe A é a febre de querer implantar à força bom-senso no cidadão, criança incapaz de tomar conta de si. Há sempre em Bruxelas quem se ofereça para baby-sitter, e em Lisboa quem insista em tratados que dispensam referendo porque os especialistas já decidiram em nome do povo. Embriagados por aeroportos e TGVs - quem se lembraria de focar a atenção num dispendioso serviço para transporte de (poucos) passageiros em vez de promover a renovação das vias férreas em bitola europeia para todo o tipo de tráfego? – até nos esquecemos da Política Agrícola Comum, sorvedouro de metade dos recursos comunitários. Coisa pouca, deixa andar...
Tanta irresponsabilidade era evitável e deve ser corrigida. Pertencer à União Europeia é vantajoso se actuarmos com sensatez dentro dela. Basta haver a coragem colectiva de mudarmos a nossa atitude: passarmos a votar, e a votar bem. Temos de arrumar a casa em Portugal, ganhando competência para intervir na Europa. É que caímos num fosso: Cavaco esgotou o prazo de validade, Sócrates nem chegou a passar pelo controlo de qualidade, a oposição continua a cheirar a mofo. Resta-nos assim aceitar que as próximas legislativas são um caso perdido, votar em branco e apostar nas seguintes. Ao prescindirmos de fazer uma escolha entre estes políticos que agora se apresentam, estaremos a criar o espaço para que outros surjam com ideias arejadas. Não vai ser necessário esperar muito, porque na próxima semana já se vai perceber que afinal ficou tudo na mesma. E isso muda tudo.
(publicado no JN de 2009/09/24)
2009/09/25
2009/09/24
A cidade praça a praça
Ver a área urbana apenas à escala macro faz com que o território fique "sem dono"
Em tempo eleitoral, meditemos sobre os espaços públicos nas cidades e, em particular, as suas praças como pontos de centralidade local, de convívio e negócio. Ver a área urbana apenas à escala macro, desleixando a micro-gestão que afecta directamente os cidadãos na sua vivência diária, faz com que o território fique "sem dono" - é de todos mas não é de ninguém.
A cidade não é saudável se não for ocupada e bem tratada. Uma zona deserta nalgumas horas do dia é inevitavelmente tomada de assalto pela insegurança, o que vai causar ainda mais abandono num ciclo vicioso onde, sem grande resultado, se vão enterrando fortunas em limpeza e manutenção. É indispensável ter a atitude que já se provou resultar no metro do Porto: vigilância atenta e permanente, reparação imediata de danos - só assim se consegue manter uma qualidade digna no serviço ao cidadão, evitando uma degradação incontrolável.
Tratemos as praças segundo os mesmos princípios. Criem-se pequenas equipas polivalentes, em turnos de 8 horas com duas ou três pessoas, 24 horas por dia e todos os dias do ano, que assumam uma praça e algumas ruas adjacentes como "suas", sendo avaliadas pelos resultados que obtêm. Teriam a missão mista de vigilância, jardinagem, limpeza, reparação de mobiliário urbano e, dependendo das qualificações concretas das pessoas que a constituam, até de ajuda a idosos lá residentes em coordenação com a Segurança Social e as IPSS. Entregue-se a sua gestão e os meios correspondentes às juntas de freguesia, que passariam a combinar a actuação com os serviços da Câmara e a Polícia.
E dinheiro? Façam-se bem as contas, incluindo todos (mas mesmo todos) os custos. Quanto se gasta actualmente em equipamento destruído pouco tempo depois de ser instalado? Quanto em manutenção para disfarçar actos de vandalismo? Quanto custa a fuga de habitantes e empresas? Se somos pobres, é também porque não sabemos evitar o desperdício. Quanto vale, afinal, reabilitar uma cidade em comparação com um TGV, um aeroporto ou uma auto-estrada?
(publicado no JN de 2009/09/10)
Em tempo eleitoral, meditemos sobre os espaços públicos nas cidades e, em particular, as suas praças como pontos de centralidade local, de convívio e negócio. Ver a área urbana apenas à escala macro, desleixando a micro-gestão que afecta directamente os cidadãos na sua vivência diária, faz com que o território fique "sem dono" - é de todos mas não é de ninguém.
A cidade não é saudável se não for ocupada e bem tratada. Uma zona deserta nalgumas horas do dia é inevitavelmente tomada de assalto pela insegurança, o que vai causar ainda mais abandono num ciclo vicioso onde, sem grande resultado, se vão enterrando fortunas em limpeza e manutenção. É indispensável ter a atitude que já se provou resultar no metro do Porto: vigilância atenta e permanente, reparação imediata de danos - só assim se consegue manter uma qualidade digna no serviço ao cidadão, evitando uma degradação incontrolável.
Tratemos as praças segundo os mesmos princípios. Criem-se pequenas equipas polivalentes, em turnos de 8 horas com duas ou três pessoas, 24 horas por dia e todos os dias do ano, que assumam uma praça e algumas ruas adjacentes como "suas", sendo avaliadas pelos resultados que obtêm. Teriam a missão mista de vigilância, jardinagem, limpeza, reparação de mobiliário urbano e, dependendo das qualificações concretas das pessoas que a constituam, até de ajuda a idosos lá residentes em coordenação com a Segurança Social e as IPSS. Entregue-se a sua gestão e os meios correspondentes às juntas de freguesia, que passariam a combinar a actuação com os serviços da Câmara e a Polícia.
E dinheiro? Façam-se bem as contas, incluindo todos (mas mesmo todos) os custos. Quanto se gasta actualmente em equipamento destruído pouco tempo depois de ser instalado? Quanto em manutenção para disfarçar actos de vandalismo? Quanto custa a fuga de habitantes e empresas? Se somos pobres, é também porque não sabemos evitar o desperdício. Quanto vale, afinal, reabilitar uma cidade em comparação com um TGV, um aeroporto ou uma auto-estrada?
(publicado no JN de 2009/09/10)
Rodas a mais
Passei a ser cliente frequente dos transportes públicos e, principalmente, da bicicleta
Decidi abandonar o uso do automóvel dentro da cidade. Passei a ser cliente frequente dos transportes públicos e, principalmente, da bicicleta. Desde a adolescência que não percorria a cidade em duas rodas. Aos 43 anos, com as subidas e descidas do Porto, seria realista este meio de transporte para a vida normal e não apenas como desporto? É. Mas há algumas dificuldades.
É demasiado perigoso o convívio de bicicletas e automóveis na mesma via. Conhecendo os condutores portugueses, escolho ruas com pouco trânsito, subo para os passeios com o devido respeito pelos peões e prefiro horas de menor movimento, remediando assim a ausência de ciclovias. Há espalhados pela cidade inúmeros sinais de proibição de parar/estacionar mas parecem indicar zonas para aparcamento permanente. Exemplo entre muitos: Rua da Constituição. Ruas largas, que permitiriam facilmente a reserva de faixas para velocípedes, ficam congestionadas com trânsito normal.
Morando no centro, verifico que a cidade "encolheu": em poucos minutos consigo chegar a qualquer lado, com ou sem subidas (benditas mudanças!). As compras mais pesadas do supermercado agora são feitas online para entrega ao domicílio. Falta-me experimentar o tempo de chuva. Como as deslocações são habitualmente curtas, conjugando o metro com a bicicleta (para a qual as carruagens têm lugar previsto) desconfio que vou continuar nesta onda radical. O mais difícil será descobrir estacionamento adequado nos locais de destino, pois a Baixa do Porto não está preparada para estes veículos exóticos. Aliás nem para peões, tal a quantidade de lixo que continua a acumular-se nas ruas e transborda dos contentores sem recolha - os autarcas provavelmente passam de carro sem sentir o cheiro ou escorregar na imundice. (Talvez recorrer à meritória iniciativa limparportugal.ning.com?)
Não sendo este um "tema fracturante", os candidatos à Câmara deviam comprometer-se a implantar medidas concretas de favorecimento do uso urbano da bicicleta caso vençam, e a apoiá-las caso percam.
(publicado no JN de 2009/08/27)
Decidi abandonar o uso do automóvel dentro da cidade. Passei a ser cliente frequente dos transportes públicos e, principalmente, da bicicleta. Desde a adolescência que não percorria a cidade em duas rodas. Aos 43 anos, com as subidas e descidas do Porto, seria realista este meio de transporte para a vida normal e não apenas como desporto? É. Mas há algumas dificuldades.
É demasiado perigoso o convívio de bicicletas e automóveis na mesma via. Conhecendo os condutores portugueses, escolho ruas com pouco trânsito, subo para os passeios com o devido respeito pelos peões e prefiro horas de menor movimento, remediando assim a ausência de ciclovias. Há espalhados pela cidade inúmeros sinais de proibição de parar/estacionar mas parecem indicar zonas para aparcamento permanente. Exemplo entre muitos: Rua da Constituição. Ruas largas, que permitiriam facilmente a reserva de faixas para velocípedes, ficam congestionadas com trânsito normal.
Morando no centro, verifico que a cidade "encolheu": em poucos minutos consigo chegar a qualquer lado, com ou sem subidas (benditas mudanças!). As compras mais pesadas do supermercado agora são feitas online para entrega ao domicílio. Falta-me experimentar o tempo de chuva. Como as deslocações são habitualmente curtas, conjugando o metro com a bicicleta (para a qual as carruagens têm lugar previsto) desconfio que vou continuar nesta onda radical. O mais difícil será descobrir estacionamento adequado nos locais de destino, pois a Baixa do Porto não está preparada para estes veículos exóticos. Aliás nem para peões, tal a quantidade de lixo que continua a acumular-se nas ruas e transborda dos contentores sem recolha - os autarcas provavelmente passam de carro sem sentir o cheiro ou escorregar na imundice. (Talvez recorrer à meritória iniciativa limparportugal.ning.com?)
Não sendo este um "tema fracturante", os candidatos à Câmara deviam comprometer-se a implantar medidas concretas de favorecimento do uso urbano da bicicleta caso vençam, e a apoiá-las caso percam.
(publicado no JN de 2009/08/27)
2009/08/23
Faltas de comparência
O que pode um cidadão fazer para não ser mais um ausente?
Deve ser do tempo quente: abundam no país casos de "participação através da ausência".
Governo. José Sócrates, nas páginas do JN, insiste nos grandes projectos de investimento como se o Estado não tivesse já provado, com ele, não estar em condições de projectar nada. Em simultâneo, foge à responsabilidade de encontrar soluções com as autarquias locais para casos como o da Linha do Tua, que tem vindo sistematicamente a destruir. Acena com a ilusão de riqueza num lado, mas esbanja-a noutro.
Oposição. Depois de uma disputa interna no PSD ganha por Manuela Ferreira Leite porque Rui Rio preferiu dedicar-se a outros afazeres, eis que chega a altura da escolha dos candidatos ao Parlamento. Momento importante? Parece que não. Rui Rio, 1.º vice-presidente do PSD, falta ao Conselho Nacional por estar a banhos. Sabe-se posteriormente que António Preto precisa subitamente de engessar o braço, logo por azar dificultando as investigações da Polícia. Que faz Ferreira Leite? Apoia. Rio, o homem impoluto, mantém o silêncio, que para ondas já chegam as da praia e pode estar aqui uma nova hipótese de seguir para Lisboa. Pacheco Pereira, a referência, concentra-se na eleição em Santarém e nem deve ter reparado no caso.
Porto. Candidatos da coligação PSD/CDS ao Executivo camarário. Confirma-se que Lino Ferreira, o (único) vereador da maioria que não é exactamente um "yes-man" e que melhor interacção tem tido com os munícipes, vai colaborar também com esta nova lista. Como? Afastando-se "por comum acordo" com Rui Rio, que lhe agradece a simpatia.
O que pode um cidadão fazer para não ser mais um ausente? Ficam duas sugestões. Primeiro, tornar-se militante do partido com o qual (apesar de tudo) maior afinidade sinta, para internamente ser voz activa que atraia outras. Segundo, enquanto esse partido não tiver programa sensato e prática decente, votar em branco nas eleições. Mas votar, para não se confundir com abstenção desleixada. Pode demorar a passar mas, se dermos um empurrãozinho, não há mal que sempre dure.
(publicado no JN de 2009/08/13)
Deve ser do tempo quente: abundam no país casos de "participação através da ausência".
Governo. José Sócrates, nas páginas do JN, insiste nos grandes projectos de investimento como se o Estado não tivesse já provado, com ele, não estar em condições de projectar nada. Em simultâneo, foge à responsabilidade de encontrar soluções com as autarquias locais para casos como o da Linha do Tua, que tem vindo sistematicamente a destruir. Acena com a ilusão de riqueza num lado, mas esbanja-a noutro.
Oposição. Depois de uma disputa interna no PSD ganha por Manuela Ferreira Leite porque Rui Rio preferiu dedicar-se a outros afazeres, eis que chega a altura da escolha dos candidatos ao Parlamento. Momento importante? Parece que não. Rui Rio, 1.º vice-presidente do PSD, falta ao Conselho Nacional por estar a banhos. Sabe-se posteriormente que António Preto precisa subitamente de engessar o braço, logo por azar dificultando as investigações da Polícia. Que faz Ferreira Leite? Apoia. Rio, o homem impoluto, mantém o silêncio, que para ondas já chegam as da praia e pode estar aqui uma nova hipótese de seguir para Lisboa. Pacheco Pereira, a referência, concentra-se na eleição em Santarém e nem deve ter reparado no caso.
Porto. Candidatos da coligação PSD/CDS ao Executivo camarário. Confirma-se que Lino Ferreira, o (único) vereador da maioria que não é exactamente um "yes-man" e que melhor interacção tem tido com os munícipes, vai colaborar também com esta nova lista. Como? Afastando-se "por comum acordo" com Rui Rio, que lhe agradece a simpatia.
O que pode um cidadão fazer para não ser mais um ausente? Ficam duas sugestões. Primeiro, tornar-se militante do partido com o qual (apesar de tudo) maior afinidade sinta, para internamente ser voz activa que atraia outras. Segundo, enquanto esse partido não tiver programa sensato e prática decente, votar em branco nas eleições. Mas votar, para não se confundir com abstenção desleixada. Pode demorar a passar mas, se dermos um empurrãozinho, não há mal que sempre dure.
(publicado no JN de 2009/08/13)
2009/08/11
Vida inteligente
No máximo seremos colaboradores de Deus na Obra da Criação, mas Ele já deve estar arrependido...
Quem vive com cão ou gato sabe que o bicho tem consciência de si, percebe quando está a fazer asneiras, constrói pequenas estratégias de brincadeira e tem personalidade diferente de outros indivíduos. Já se provou que macacos e golfinhos possuem cultura, ou seja, passam conhecimentos de geração em geração, usam instrumentos. Nós, humanos, afinal não somos tão diferentes deles como pensávamos. Nada legitima a nossa apropriação da Natureza. Somos apenas os mais inteligentes, mais poderosos, e por isso responsáveis pelo uso que fazemos da Terra.
Por que razão se deve proteger uma criança com dois meses de idade? Por ser "propriedade" dos pais, ou porque tem em si própria dignidade que lhe confere direito à vida e a ser bem tratada? Se qualquer gato adulto é em muitos aspectos mais sofisticado que uma criança dessa idade, não lhe deveríamos reconhecer alguns direitos? Os deficientes mentais profundos, que nem sequer a inteligência de um macaco conseguem atingir, devem equiparar-se a "bichos sem direitos"? Qual a linha divisória? A diferença entre humanos e animais não justifica tudo para uns, nada para outros - Darwin ensinou-nos que há muitos graus de evolução.
Soube recentemente do projecto de um biotério na Azambuja para 25 mil animais destinados a experiências científicas. Não duvido das boas intenções dos promotores, mas chocou-me a ênfase no facto de ser "dos maiores da Europa" e "ter capacidade para serviços comerciais". Tenho perfeita noção do que os humanos perdem ao evitarem-se experiências com animais, mas aqui terão sido ultrapassados os limites do indispensável. O tema transcende o estatuto dos animais e leva-nos à ânsia contemporânea do Homem por um nível de conforto ilimitado, à sua dificuldade em encarar a doença, a dor e a morte como necessárias à vida.
O Homem, por prudência e humildade, não deve assumir-se como "Deus" na sua relação com os animais. "Encarregado de educação" fica melhor. No máximo seremos colaboradores de Deus na Obra da Criação mas, constatando a maneira como nos comportamos, Ele já deve estar arrependido...
(publicado no JN de 2009/07/30)
Quem vive com cão ou gato sabe que o bicho tem consciência de si, percebe quando está a fazer asneiras, constrói pequenas estratégias de brincadeira e tem personalidade diferente de outros indivíduos. Já se provou que macacos e golfinhos possuem cultura, ou seja, passam conhecimentos de geração em geração, usam instrumentos. Nós, humanos, afinal não somos tão diferentes deles como pensávamos. Nada legitima a nossa apropriação da Natureza. Somos apenas os mais inteligentes, mais poderosos, e por isso responsáveis pelo uso que fazemos da Terra.
Por que razão se deve proteger uma criança com dois meses de idade? Por ser "propriedade" dos pais, ou porque tem em si própria dignidade que lhe confere direito à vida e a ser bem tratada? Se qualquer gato adulto é em muitos aspectos mais sofisticado que uma criança dessa idade, não lhe deveríamos reconhecer alguns direitos? Os deficientes mentais profundos, que nem sequer a inteligência de um macaco conseguem atingir, devem equiparar-se a "bichos sem direitos"? Qual a linha divisória? A diferença entre humanos e animais não justifica tudo para uns, nada para outros - Darwin ensinou-nos que há muitos graus de evolução.
Soube recentemente do projecto de um biotério na Azambuja para 25 mil animais destinados a experiências científicas. Não duvido das boas intenções dos promotores, mas chocou-me a ênfase no facto de ser "dos maiores da Europa" e "ter capacidade para serviços comerciais". Tenho perfeita noção do que os humanos perdem ao evitarem-se experiências com animais, mas aqui terão sido ultrapassados os limites do indispensável. O tema transcende o estatuto dos animais e leva-nos à ânsia contemporânea do Homem por um nível de conforto ilimitado, à sua dificuldade em encarar a doença, a dor e a morte como necessárias à vida.
O Homem, por prudência e humildade, não deve assumir-se como "Deus" na sua relação com os animais. "Encarregado de educação" fica melhor. No máximo seremos colaboradores de Deus na Obra da Criação mas, constatando a maneira como nos comportamos, Ele já deve estar arrependido...
(publicado no JN de 2009/07/30)
2009/08/05
Telefonem-me!
Os portugueses continuam a não compreender como podem utilizar a "lei do menor esforço" em seu benefício.
Os portugueses continuam a não compreender como podem utilizar a "lei do menor esforço" em seu benefício. É desconfiança, receio de que lhes escape o controlo dos acontecimentos, enfim, medo de perder o poder. Ou então incompetência pura e simples.
Vejamos o que se passa nas autarquias. Para a maior parte dos assuntos locais (ao contrário dos nacionais) não são relevantes as diferenças ideológicas entre os partidos concorrentes às eleições. Questões estritamente técnicas ou apenas de bom senso proporcionariam consensos frequentes. O ciclo vicioso em que disparate de um lado estimula disparate oposto do lado contrário só se quebra com o envolvimento dos cidadãos que conseguem ultrapassar a guerrilha partidária, organizando-se em grupos de interesse temático para dar resposta ao que as estruturas políticas convencionais não conseguem resolver.
Foi neste espírito de aproveitar a riqueza dispersa pela sociedade civil que nasceu recentemente a Rede Norte: uma plataforma destinada a agregar competências complementares da Associação de Cidadãos do Porto, da Associação Comboios XXI (de Braga), da Campo Aberto (dedicada ao ambiente e ordenamento do território), e de mais organizações que a estas se queiram reunir. Junta-se assim massa crítica para gerar propostas concretas baseadas em estudos sólidos, que serão oferecidas ao poder político para implantação. Em termos simples: é "preparar a papinha" para quem tem o poder executivo.
Ser bom autarca exige estimular a colaboração supra-partidária com a sociedade civil. Mas exige também que os partidos avancem com sugestões e programas para debate a tempo e horas. Assim, lamento este mau exemplo de que tive conhecimento por fontes que julgo fidedignas: na data em que escrevo, a menos de três meses das eleições, não há nenhum candidato, de nenhum partido, à Câmara de Arouca. Haverá eventuais potenciais candidatos a candidatos, mas aparentemente todos "aguardam para ver". Por isso, se o impasse se mantiver, telefonem-me. Eu candidato-me.
(publicado no JN de 2009/07/16)
Os portugueses continuam a não compreender como podem utilizar a "lei do menor esforço" em seu benefício. É desconfiança, receio de que lhes escape o controlo dos acontecimentos, enfim, medo de perder o poder. Ou então incompetência pura e simples.
Vejamos o que se passa nas autarquias. Para a maior parte dos assuntos locais (ao contrário dos nacionais) não são relevantes as diferenças ideológicas entre os partidos concorrentes às eleições. Questões estritamente técnicas ou apenas de bom senso proporcionariam consensos frequentes. O ciclo vicioso em que disparate de um lado estimula disparate oposto do lado contrário só se quebra com o envolvimento dos cidadãos que conseguem ultrapassar a guerrilha partidária, organizando-se em grupos de interesse temático para dar resposta ao que as estruturas políticas convencionais não conseguem resolver.
Foi neste espírito de aproveitar a riqueza dispersa pela sociedade civil que nasceu recentemente a Rede Norte: uma plataforma destinada a agregar competências complementares da Associação de Cidadãos do Porto, da Associação Comboios XXI (de Braga), da Campo Aberto (dedicada ao ambiente e ordenamento do território), e de mais organizações que a estas se queiram reunir. Junta-se assim massa crítica para gerar propostas concretas baseadas em estudos sólidos, que serão oferecidas ao poder político para implantação. Em termos simples: é "preparar a papinha" para quem tem o poder executivo.
Ser bom autarca exige estimular a colaboração supra-partidária com a sociedade civil. Mas exige também que os partidos avancem com sugestões e programas para debate a tempo e horas. Assim, lamento este mau exemplo de que tive conhecimento por fontes que julgo fidedignas: na data em que escrevo, a menos de três meses das eleições, não há nenhum candidato, de nenhum partido, à Câmara de Arouca. Haverá eventuais potenciais candidatos a candidatos, mas aparentemente todos "aguardam para ver". Por isso, se o impasse se mantiver, telefonem-me. Eu candidato-me.
(publicado no JN de 2009/07/16)
Eoepderemndr locsia
No estado em que o Estado está, quanto menos Estado melhor será o nosso estado. Pelo menos nos tempos mais próximos.
As ideias dos candidatos autárquicos sobre como a Administração Pública pode colaborar com a sociedade civil para desenvolver o país são geralmente tão claras quanto o título deste texto. Mas, tal como no anagrama acima, se calhar a matéria-prima está lá, precisa é de organização. As boas intenções sem sustentabilidade são armadilhas perigosas. De cada vez que há eleições, e ante a urgência de apresentar propostas cativantes, recorre-se a chavões da moda porque, se estão na moda, alguma justificação positiva deve haver...
Assim tem sido também com o "empreendedorismo social". No estado em que o Estado está, quanto menos Estado melhor será o nosso estado. Pelo menos nos tempos mais próximos. Daí que a iniciativa privada, quando orientada por princípios filantrópicos alicerçados em boas práticas de gestão, naturalmente mais ágil do que as estruturas públicas, surja com iniciativas em que o lucro é instrumento de intervenção social. Porque isso é sustentável. Porque é com dinheiro que se concretizam os projectos. Porque a liberdade e a justiça exigem uma economia sã. Há aqui um papel para as autarquias que, no âmbito das suas competências, poderão facilitar este esforço privado sem se tornarem dominantes.
Este conceito, tradução possível do inglês "social entrepreneurship", é válido para diferentes escalas de intervenção. Desde o micro-crédito no pequeno comércio local, ao capital de risco em grande escala, passando por investimentos de média dimensão em projectos de reabilitação urbana com o envolvimento da população, o objectivo é maximizar o impacto social. Em vez criar riqueza para acumular ou eventualmente gastar mal, procura-se o lucro para reinvestir em benefício comum, envolvendo a comunidade.
O espírito de actuação é precisamente o oposto dos grandes "planos estratégicos" de intervenção pública. A sociedade civil não precisa de "educação" nem de orientação. Importa deixá-la organizar-se e remover as barreiras que lhe foram sendo erguidas por quem convive mal com o sucesso alheio.
(publicado no JN de 2009/07/02)
As ideias dos candidatos autárquicos sobre como a Administração Pública pode colaborar com a sociedade civil para desenvolver o país são geralmente tão claras quanto o título deste texto. Mas, tal como no anagrama acima, se calhar a matéria-prima está lá, precisa é de organização. As boas intenções sem sustentabilidade são armadilhas perigosas. De cada vez que há eleições, e ante a urgência de apresentar propostas cativantes, recorre-se a chavões da moda porque, se estão na moda, alguma justificação positiva deve haver...
Assim tem sido também com o "empreendedorismo social". No estado em que o Estado está, quanto menos Estado melhor será o nosso estado. Pelo menos nos tempos mais próximos. Daí que a iniciativa privada, quando orientada por princípios filantrópicos alicerçados em boas práticas de gestão, naturalmente mais ágil do que as estruturas públicas, surja com iniciativas em que o lucro é instrumento de intervenção social. Porque isso é sustentável. Porque é com dinheiro que se concretizam os projectos. Porque a liberdade e a justiça exigem uma economia sã. Há aqui um papel para as autarquias que, no âmbito das suas competências, poderão facilitar este esforço privado sem se tornarem dominantes.
Este conceito, tradução possível do inglês "social entrepreneurship", é válido para diferentes escalas de intervenção. Desde o micro-crédito no pequeno comércio local, ao capital de risco em grande escala, passando por investimentos de média dimensão em projectos de reabilitação urbana com o envolvimento da população, o objectivo é maximizar o impacto social. Em vez criar riqueza para acumular ou eventualmente gastar mal, procura-se o lucro para reinvestir em benefício comum, envolvendo a comunidade.
O espírito de actuação é precisamente o oposto dos grandes "planos estratégicos" de intervenção pública. A sociedade civil não precisa de "educação" nem de orientação. Importa deixá-la organizar-se e remover as barreiras que lhe foram sendo erguidas por quem convive mal com o sucesso alheio.
(publicado no JN de 2009/07/02)
O cidadão é um idiota
Uma pequena minoria, com algumas qualidades de facto acima da média, julga ter legitimidade acrescida para nos governar.
Entre as causas de tempos pouco felizes em Portugal está a incapacidade das suas lideranças compreenderem que um país é feito por gente "normal", com as qualidades e defeitos "normais". Criou-se um fosso entre as elites e o povo. Uma pequena minoria, com (apenas) algumas qualidades de facto acima da média, julga ter legitimidade acrescida para nos governar. Essa minoria não possui a experiência da vida do cidadão comum nem recolhe dele o "feedback" que é também conhecimento valioso. Essa mesma minoria não tem tempo nem paciência para dedicar às questões mais terra a terra que alguns cidadãos interventivos acabam por tratar à sua maneira por exemplo ao nível das freguesias, com esforço e dedicação, e muitas vezes bem.
António Barreto lembrou no 10 de Junho a importância do exemplo. Mas, ao mesmo tempo que afirma concordar com ele, há quem receie o acesso "demasiado facilitado" a informação da Administração Pública porque o cidadão "pode não a perceber completamente" e "tirar conclusões precipitadas". No fundo, para esses, o cidadão seria um pobre coitado, com limitada autonomia e capacidade de discernimento. Só assim se explica o desvelo com que o Estado, tomado de assalto por elementos dessa elite, regula exaustivamente toda e qualquer actividade onde o cidadão se possa eventualmente envolver. Não haverá igualmente outra razão para que os partidos nos poupem aos detalhes da concretização das ideias que propõem.
Num ambiente construtivo o cidadão comum habitualmente contribui de forma positiva. Ao contrário, quando imerso na agressividade, na desonestidade, na inveja, ele ajuda a piorar a situação. Constatar que a política está desacreditada é fornecer o melhor argumento para que haja uma militância mais intensa de todos nós no sentido de reconquistar os partidos àqueles a quem eles foram abandonados. Os 4,63% de votos em branco nas Europeias são uma fonte de esperança: revelam eleitores que pretendem ter participação activa e que não se conformam em ser tratados como idiotas.
(publicado no JN de 2009/06/18)
Entre as causas de tempos pouco felizes em Portugal está a incapacidade das suas lideranças compreenderem que um país é feito por gente "normal", com as qualidades e defeitos "normais". Criou-se um fosso entre as elites e o povo. Uma pequena minoria, com (apenas) algumas qualidades de facto acima da média, julga ter legitimidade acrescida para nos governar. Essa minoria não possui a experiência da vida do cidadão comum nem recolhe dele o "feedback" que é também conhecimento valioso. Essa mesma minoria não tem tempo nem paciência para dedicar às questões mais terra a terra que alguns cidadãos interventivos acabam por tratar à sua maneira por exemplo ao nível das freguesias, com esforço e dedicação, e muitas vezes bem.
António Barreto lembrou no 10 de Junho a importância do exemplo. Mas, ao mesmo tempo que afirma concordar com ele, há quem receie o acesso "demasiado facilitado" a informação da Administração Pública porque o cidadão "pode não a perceber completamente" e "tirar conclusões precipitadas". No fundo, para esses, o cidadão seria um pobre coitado, com limitada autonomia e capacidade de discernimento. Só assim se explica o desvelo com que o Estado, tomado de assalto por elementos dessa elite, regula exaustivamente toda e qualquer actividade onde o cidadão se possa eventualmente envolver. Não haverá igualmente outra razão para que os partidos nos poupem aos detalhes da concretização das ideias que propõem.
Num ambiente construtivo o cidadão comum habitualmente contribui de forma positiva. Ao contrário, quando imerso na agressividade, na desonestidade, na inveja, ele ajuda a piorar a situação. Constatar que a política está desacreditada é fornecer o melhor argumento para que haja uma militância mais intensa de todos nós no sentido de reconquistar os partidos àqueles a quem eles foram abandonados. Os 4,63% de votos em branco nas Europeias são uma fonte de esperança: revelam eleitores que pretendem ter participação activa e que não se conformam em ser tratados como idiotas.
(publicado no JN de 2009/06/18)
Mania de complicar
Se quando nos perguntam a opinião sobre um assunto respondermos a respeito de outro, de que nos queixamos?
É errado o hábito de usar uma eleição com um fim específico para "dar sinal" de outra coisa qualquer. Se no próximo domingo formos avaliar o Governo nacional, em que ocasião escolheremos os deputados para o Parlamento Europeu e o projecto que defendem? E nas autárquicas, vamos votar na nossa representação local, ou "enviaremos recados" para mais longe? Nas legislativas, avaliaremos as propostas a nível nacional, ou estaremos a premiar/punir as estruturas partidárias locais?
É contudo saudável avaliar o resultado das acções/inacções do Governo naquilo que está relacionado com a Europa para confrontar as candidaturas (e não apenas os cabeças-de-lista) com as suas ideias para o Parlamento Europeu. Mas para chumbar o Governo é nas legislativas - não perde por esperar. Se quando nos perguntam a opinião sobre um assunto respondermos a respeito de outro, de que nos queixamos?
A vontade dos cidadãos é progressivamente ignorada: houve um largo consenso para, sob vários pretextos, nos negarem a possibilidade de votar o Tratado de Lisboa. Não terá sido o caso mais grave neste caminho forçado para a Europa, mas a ilegibilidade daquele amontoado de artigos é motivo bastante para o recusar. Querem avançar para uma Europa melhor? Tornem-na compreensível. Tornem-na simples. Convençam-nos.
Compreende-se a abstenção como reflexo da indignação generalizada. Mas é combater um mal com outro mal: como se distingue o cidadão indignado do cidadão desleixado? A "abstenção responsável" é o voto em branco, pois inequivocamente mostra descontentamento. Há uma sugestão excelente mas nunca aproveitada: a abstenção e os votos em branco deveriam "eleger deputados". Por exemplo, 40% de abstenção significaria 40% de cadeiras vazias no Parlamento. Eis uma maneira simples de criar nos deputados forte interesse na participação política dos cidadãos! Aposto que com esta nova regra os próximos tratados seriam milagrosamente fáceis de entender, as leis mais bem preparadas, a prestação de contas bem cuidada.
(publicado no JN de 2009/06/04)
É errado o hábito de usar uma eleição com um fim específico para "dar sinal" de outra coisa qualquer. Se no próximo domingo formos avaliar o Governo nacional, em que ocasião escolheremos os deputados para o Parlamento Europeu e o projecto que defendem? E nas autárquicas, vamos votar na nossa representação local, ou "enviaremos recados" para mais longe? Nas legislativas, avaliaremos as propostas a nível nacional, ou estaremos a premiar/punir as estruturas partidárias locais?
É contudo saudável avaliar o resultado das acções/inacções do Governo naquilo que está relacionado com a Europa para confrontar as candidaturas (e não apenas os cabeças-de-lista) com as suas ideias para o Parlamento Europeu. Mas para chumbar o Governo é nas legislativas - não perde por esperar. Se quando nos perguntam a opinião sobre um assunto respondermos a respeito de outro, de que nos queixamos?
A vontade dos cidadãos é progressivamente ignorada: houve um largo consenso para, sob vários pretextos, nos negarem a possibilidade de votar o Tratado de Lisboa. Não terá sido o caso mais grave neste caminho forçado para a Europa, mas a ilegibilidade daquele amontoado de artigos é motivo bastante para o recusar. Querem avançar para uma Europa melhor? Tornem-na compreensível. Tornem-na simples. Convençam-nos.
Compreende-se a abstenção como reflexo da indignação generalizada. Mas é combater um mal com outro mal: como se distingue o cidadão indignado do cidadão desleixado? A "abstenção responsável" é o voto em branco, pois inequivocamente mostra descontentamento. Há uma sugestão excelente mas nunca aproveitada: a abstenção e os votos em branco deveriam "eleger deputados". Por exemplo, 40% de abstenção significaria 40% de cadeiras vazias no Parlamento. Eis uma maneira simples de criar nos deputados forte interesse na participação política dos cidadãos! Aposto que com esta nova regra os próximos tratados seriam milagrosamente fáceis de entender, as leis mais bem preparadas, a prestação de contas bem cuidada.
(publicado no JN de 2009/06/04)
Porto + Gaia + Matosinhos = Porto
A questão colocar-se-ia mesmo com um Estado não-centralista: somos capazes de nos governar localmente?
Um dos graves problemas com que se depara o país é a reduzida dimensão das autarquias. Quer ao nível das juntas de freguesia quer ao nível dos municípios, não há escala para realizar uma boa gestão do território (infra-estruturas, ambiente) nem capacidade reivindicativa face às hierarquias superiores da Administração Pública. Não me refiro aos malefícios do "centralismo", que é um fenómeno próximo mas distinto. A questão colocar-se-ia mesmo com um Estado não-centralista: somos capazes de nos governar localmente?
Num cenário em que autarcas vizinhos estão em permanente guerrilha, haverá condições para se pensar a sério em qual o papel da Autarquia, qual a sua vocação inserida no meio que a rodeia, quais os instrumentos para alcançar objectivos em grande parte partilhados por todos os quadrantes políticos?
Num panorama desanimador, credenciados comentadores suspiram pelo aparecimento milagroso de novos protagonistas, sempre outros que não eles próprios. Faz lembrar aqueles que, depois de ouvirem Barack Obama proclamar "we are the ones we are looking for", vêm dizer "era de alguém assim que nós precisávamos" sem perceberem a contradição em que entram. Tem acontecido também que valores emergentes da região quando atingem alguma notoriedade e capacidade de influência passam a privilegiar o palco nacional e desleixam o local.
Não podemos continuar a esperar pelo Poder Central ou por uma eventual regionalização de contornos mais que duvidosos. Façamos aquilo que está ao nosso alcance. Um exemplo concreto: agora que se preparam os programas eleitorais autárquicos, exijamos aos candidatos a presidente das câmaras do Porto, de Gaia e de Matosinhos que preparem a fusão destes três concelhos, nem que seja como etapa inicial de uma posterior reorganização territorial mais vasta. A junção de Matosinhos, além de Gaia, tem a vantagem de tornar mais evidente que o conjunto se chama "Porto", e não "Porto-Gaia", nem "Gaiaporto", nem outro disparate qualquer. A marca Porto é um activo muito valioso.
(publicado no JN de 2009/05/21)
Um dos graves problemas com que se depara o país é a reduzida dimensão das autarquias. Quer ao nível das juntas de freguesia quer ao nível dos municípios, não há escala para realizar uma boa gestão do território (infra-estruturas, ambiente) nem capacidade reivindicativa face às hierarquias superiores da Administração Pública. Não me refiro aos malefícios do "centralismo", que é um fenómeno próximo mas distinto. A questão colocar-se-ia mesmo com um Estado não-centralista: somos capazes de nos governar localmente?
Num cenário em que autarcas vizinhos estão em permanente guerrilha, haverá condições para se pensar a sério em qual o papel da Autarquia, qual a sua vocação inserida no meio que a rodeia, quais os instrumentos para alcançar objectivos em grande parte partilhados por todos os quadrantes políticos?
Num panorama desanimador, credenciados comentadores suspiram pelo aparecimento milagroso de novos protagonistas, sempre outros que não eles próprios. Faz lembrar aqueles que, depois de ouvirem Barack Obama proclamar "we are the ones we are looking for", vêm dizer "era de alguém assim que nós precisávamos" sem perceberem a contradição em que entram. Tem acontecido também que valores emergentes da região quando atingem alguma notoriedade e capacidade de influência passam a privilegiar o palco nacional e desleixam o local.
Não podemos continuar a esperar pelo Poder Central ou por uma eventual regionalização de contornos mais que duvidosos. Façamos aquilo que está ao nosso alcance. Um exemplo concreto: agora que se preparam os programas eleitorais autárquicos, exijamos aos candidatos a presidente das câmaras do Porto, de Gaia e de Matosinhos que preparem a fusão destes três concelhos, nem que seja como etapa inicial de uma posterior reorganização territorial mais vasta. A junção de Matosinhos, além de Gaia, tem a vantagem de tornar mais evidente que o conjunto se chama "Porto", e não "Porto-Gaia", nem "Gaiaporto", nem outro disparate qualquer. A marca Porto é um activo muito valioso.
(publicado no JN de 2009/05/21)
Indústrias criativas, se as deixarem
Criou-se bom ambiente para acelerar o desenvolvimento regional se se resistir à tentação habitual: a de inventar “encarregados de educação” do empreendedorismo alheio.
O primeiro dos “Encontros a Norte” da CCDR-N - “Transformar Criatividade em Negócio” – mostrou há dias em Serralves a experiência de uma empresa britânica como inspiração para o futuro trabalho da Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas. Fomentar parcerias, reduzir custos de contexto, dar apoio técnico a empresas pouco experientes, são acções a desenvolver por esta nova associação de entidades públicas e privadas. Existindo fundos públicos disponíveis, criou-se bom ambiente para acelerar o desenvolvimento regional se se resistir à tentação habitual: a de inventar “encarregados de educação” do empreendedorismo alheio que não arriscam eles próprios criar o seu negócio, mas viciam outros na dependência dos apoios estatais.
Provando que há quem tenha capacidade de ser autónomo, observem-se dois exemplos de criatividade - as Artes em Miguel Bombarda e os novos negócios entre a Cordoaria e a Batalha. A Baixa do Porto é afinal uma incubadora extraordinária, com tantos espaços livres!
Importa agora diversificar (internacionalizando) e dar escala a projectos que criem impacto local. Se o apoio assumir a forma de encomenda de serviços ou produtos, os empreendedores saberão quais as prioridades de investimento e de acção. Ou melhor: alguns saberão e outros não, deixemos o mercado funcionar - não é afinal isso que se pretende fomentar? Não falta que fazer, falta é organização para tornar esse trabalho rentável. A criatividade passará pelas novas modas digitais, mas reside também nas necessidades terra-a-terra da reabilitação urbana (do edificado, social, ambiental, cultural) onde se calhar a inovação é ainda mais urgente.
Aposte-se em reduzir a excessiva regulamentação das actividades, pois os cidadãos são capazes de tomar conta de si sem tutelas. Estudem-se os fracassos para aprender como ajudar a “desencravar” iniciativas de mérito. Avaliem-se os resultados. Faça-se pouco, sem paternalismo, mas faça-se bem. O resto surgirá naturalmente.
(publicado no JN de 2009/05/07)
O primeiro dos “Encontros a Norte” da CCDR-N - “Transformar Criatividade em Negócio” – mostrou há dias em Serralves a experiência de uma empresa britânica como inspiração para o futuro trabalho da Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas. Fomentar parcerias, reduzir custos de contexto, dar apoio técnico a empresas pouco experientes, são acções a desenvolver por esta nova associação de entidades públicas e privadas. Existindo fundos públicos disponíveis, criou-se bom ambiente para acelerar o desenvolvimento regional se se resistir à tentação habitual: a de inventar “encarregados de educação” do empreendedorismo alheio que não arriscam eles próprios criar o seu negócio, mas viciam outros na dependência dos apoios estatais.
Provando que há quem tenha capacidade de ser autónomo, observem-se dois exemplos de criatividade - as Artes em Miguel Bombarda e os novos negócios entre a Cordoaria e a Batalha. A Baixa do Porto é afinal uma incubadora extraordinária, com tantos espaços livres!
Importa agora diversificar (internacionalizando) e dar escala a projectos que criem impacto local. Se o apoio assumir a forma de encomenda de serviços ou produtos, os empreendedores saberão quais as prioridades de investimento e de acção. Ou melhor: alguns saberão e outros não, deixemos o mercado funcionar - não é afinal isso que se pretende fomentar? Não falta que fazer, falta é organização para tornar esse trabalho rentável. A criatividade passará pelas novas modas digitais, mas reside também nas necessidades terra-a-terra da reabilitação urbana (do edificado, social, ambiental, cultural) onde se calhar a inovação é ainda mais urgente.
Aposte-se em reduzir a excessiva regulamentação das actividades, pois os cidadãos são capazes de tomar conta de si sem tutelas. Estudem-se os fracassos para aprender como ajudar a “desencravar” iniciativas de mérito. Avaliem-se os resultados. Faça-se pouco, sem paternalismo, mas faça-se bem. O resto surgirá naturalmente.
(publicado no JN de 2009/05/07)
2009/05/02
Textos e fotografias de minha autoria publicados na blogosfera
N'A Baixa do Porto:
No Eleições 2009 (muito baseados noutros já antes por mim escritos):
Já agora, eis o apontador para o ficheiro áudio (mp3 50 MB) da entrevista que me fez Vitor Silva em Janeiro passado, e também para a entrevista de Helena Teixeira da Silva no JN em Abril.
Há ainda o que foi publicado n'O Futuro é agora.
Algumas fotografias sobre o Porto, por ordem cronológica inversa:
- 2008-11-15: Ainda os estatismos regionais
- 2008-11-14: Estatismo regional
- 2008-11-10: Comprar a ANA
- 2008-10-23: Sobre A Baixa do Porto e a blogosfera em geral
- 2008-10-07: O anonimato no blog
- 2008-09-21: A emissão pirata de moeda
- 2008-07-26: Alguns dados sobre o Aleixo
- 2008-07-23: Indústrias Criativas
- 2008-07-22: As minhas sugestões para o Aleixo
- 2008-07-16: Nuclear: sempre os mesmos erros...
- 2008-07-12: Regionalização: a ilusão de consenso
- 2008-07-02: Os bancos e a reabilitação urbana
- 2008-06-23: Os cidadãos e os partidos
- 2008-05-25: O PSD e o Porto
- 2008-05-08: Certificação opcional, em vez de requisitos técnicos obrigatórios
- 2008-03-23: Carta ao Bispo do Porto
- 2008-02-29: Artur Santos Silva na Câmara do Porto
- 2008-02-16: Brevíssimas notas sobre o Bolhão
- 2008-02-15: A solução para os problemas do Porto
- 2007-11-21: Por que razão é racional e potencialmente lucrativo investir em projectos que provavelmente vão falhar
- 2007-11-25: Abandonar a União Europeia?
- 2007-09-29: Partidos: Representatividade
- 2007-03-04: Câmara do Porto 2009: Posso dar as tácticas?
- 2007-02-23: Um dos mitos da Reabilitação Urbana - “um bom negócio encontra sempre investidores”
No Eleições 2009 (muito baseados noutros já antes por mim escritos):
- 2009-04-01: Ainda o Tratado de Lisboa
- 2009-03-31: Fusão de autarquias
- 2009-03-30: Mania de complicar
- 2009-03-30: Representatividade
Já agora, eis o apontador para o ficheiro áudio (mp3 50 MB) da entrevista que me fez Vitor Silva em Janeiro passado, e também para a entrevista de Helena Teixeira da Silva no JN em Abril.
Há ainda o que foi publicado n'O Futuro é agora.
Algumas fotografias sobre o Porto, por ordem cronológica inversa:
- Vigília Pascal 2009 na Sé
- Foz
- Alameda 25 de Abril
- Capela do Hospital de S. João
- Pavilhão Rosa Mota
- Teatro Helena Sá e Costa
- Casa de Chá da Boa Nova
- Igreja Nova de Ramalde
- Serra do Pilar
- Igreja de S. Nicolau
- Galeria de Paris
- Missa do Galo 2008 na Igreja de Santa Clara
- Igreja de Sto. António das Antas
- Igreja da Pasteleira
- Na Marginal
- Igreja de S. Martinho de Aldoar
- Inaugurações em Miguel Bombarda, Novembro 2008
- Plano B
- Inaugurações em Miguel Bombarda, Novembro 2008
- Igreja Stella Maris
- Junto ao Fluvial
- Cabedelo
- Igreja de S. Paulo do Viso
- Igreja de Nossa Senhora da Boavista
- Se esta rua fosse minha... 2008
- Se esta rua fosse minha... 2008
- E-learning Café da UP
- Rio Douro visto de Gaia
- Em Paranhos
- Em Paranhos
- A Foz vista de Gaia
- Red Bull Air Race 2008
- Red Bull Air Race 2008
- Red Bull Air Race 2008
- Pontes
- Ponte Luíz I
- Ponte Luíz I
- Igreja de Sto. Ildefonso
- Junto à Igreja de Sto. Ildefonso
- No Centro Histórico do Porto
- Fundação Fábrica Social
- Lua
- Jardim do Palácio de Cristal
- Reitoria da UP
- S. João 2008
- S. João 2008
- S. João 2008
- Vista da Fundação Fábrica Social
- Edifício Miradouro
- Passeio Alegre
- Estação de Campanhã
- Alto da Fontinha
- Foz
- Lada
- Fundação Fábrica Social
- Vista do Alto da Fontinha
- Foz
- Moagens Harmonia
- Foz
- Largo Duque da Ribeira
- Fundação Fábrica Social
- Paço Episcopal
- Parque da Cidade
- Vigília Pascal 2008 na Sé
- Sexta-feira Santa 2008 na Sé
- Quinta-feira Santa 2008 na Sé
- Avenida dos Aliados
- Avenida dos Aliados
- Avenida dos Aliados
- Igreja de Aldoar
- Largo Duque da Ribeira
- Inaugurações em Miguel Bombarda, Abril 2008
- Inaugurações em Serralves, Fevereiro 2008
- Igreja da Sra. do Porto
- Em Gaia
- Foz
- Foz
- No Passos Manuel
- Ribeira
- Foz
- Foz
- Missa do Galo 2007 na Igreja de Santa Clara
- Centro Histórico
- ImPORTO-me 2007
- ImPORTO-me 2007
- ImPORTO-me 2007
- ImPORTO-me 2007
- ImPORTO-me 2007
- Outras fotografias anteriores
2009/03/06
Eu, Pacheco Pereira e as cabalas
José Pacheco Pereira destacou o meu nome no Abrupto como um dos principais responsáveis por mais uma cabala contra Manuela Ferreira Leite. (Muito gostava de perceber como é que pedir um bom cabeça de lista para as Europeias é mau para o PSD, mas tenho consciência das minhas limitações.) Enviei por isso a JPP, na passada Quarta-feira, a resposta que gostaria de ver publicada no Abrupto. Mais tarde, receando que se tivesse extraviado, reenviei-a por outra via, de um outro endereço de mail. Pelo que constato agora no Abrupto, passados dois dias, JPP estará ainda demasiado ocupado a publicar outros textos dele. Por isso, evitando desviar JPP de tarefas mais importantes, fica aqui a mensagem em causa.
--------------------
From: Tiago Azevedo Fernandes
Date: 2009/3/4
Subject: A petição
To: Jose Pacheco Pereira
Bom dia!
Como o meu nome é citado hoje no Abrupto, gostaria de esclarecer o seguinte.
1) O que une os signatários da petição é apenas o facto de terem assinado a petição. Cada um terá as suas razões, eu conheço as minhas. Haverá quem queira criar intriga interna no PSD, haverá quem se queira ver livre do programa aos Domingos na RTP, haverá de tudo um pouco. O meu interesse é, contudo, muito terra-a-terra: que MRS seja o cabeça de lista às Europeias 2009 pelo PSD porque me parece o melhor para o PSD e para o país. Desesperantemente simples e ingénuo da minha parte? Talvez, mas não desisto de ser assim: defendo aquilo em que acredito. ;-)
2) As notícias. Houve notícias mal feitas, tendenciosas ou descuidadas? Houve. Isso retira algum valor à petição? Não. Mais uma vez, apenas sei o que _eu_ faço: não pressionei jornais nem tentei passar nenhuma imagem falsa (até porque não teria capacidade de influência para isso). Haverá quem o tenha feito? Acho altamente provável que sim. A responsabilidade disso é de quem o fez. Tentar atribuir-me a mim (pequenino no meio disto tudo), ao Vasco Campilho, a Pedro Passos Coelho, ou a quem quiser, intenções muito rebuscadas é entrar na mesma espiral de conspiração que JPP critica. Está no seu direito, mas para "teorias da cabala" já me chegam as do PS.
3) A sua afirmação a respeito das assinaturas, "quase todas oriundas dos próprios autores dos blogues que apoiaram a iniciativa", é evidentemente errada. Não há assim tantos blogs nem autores de blogs a apoiar MRS (ainda, pelo menos) ;-)
4) Por último, se eu quisesse entrar no mesmo estilo que utiliza no seu post de hoje, diria que a referência a "confissões" de "um seu autor" (que presumo seja eu) foi cuidadosamente redigida para induzir em erro os seus leitores. Não acredito que assim tenha sido, mas que se tratou apenas fruto da interpretação criativa (mas sincera, creio) que JPP faz dos factos que observa. Esclareço então. Não procurei autorização de ninguém para participar nesta iniciativa, pois não respondo perante nenhum "superior" na minha intervenção pública. Escutei, directa e indirectamente, opiniões alheias sobre as vantagens e inconvenientes desta iniciativa para o fim em causa (lembrando: eleger MRS para o PE!) atendendo também ao meu passado de intervenção cívica em várias frentes (por exemplo no blog A Baixa do Porto, entre muitas outras que são públicas, desde a Política à Religião). Deduzir que essas minhas consultas são, afinal, a origem da iniciativa é, concordará comigo, abusivo. Interpretações políticas mais elaboradas sobre opiniões, posições, apoios ou ausência deles, já devem ficar a cargo de analistas e comentadores prestigiados como o JPP, mais conhecedores do que eu de cabalas e ciências ocultas. ;-)
No meio disto tudo, parece esquecer-se o essencial: Marcelo Rebelo de Sousa é ou não é uma boa escolha? Quer dar a sua opinião, em vez de se limitar a analisar o pequeno mundo das intrigas?
Saudações (igualmente laranjas, não se esqueça)!
Tiago Azevedo Fernandes
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From: Tiago Azevedo Fernandes
Date: 2009/3/4
Subject: A petição
To: Jose Pacheco Pereira
Bom dia!
Como o meu nome é citado hoje no Abrupto, gostaria de esclarecer o seguinte.
1) O que une os signatários da petição é apenas o facto de terem assinado a petição. Cada um terá as suas razões, eu conheço as minhas. Haverá quem queira criar intriga interna no PSD, haverá quem se queira ver livre do programa aos Domingos na RTP, haverá de tudo um pouco. O meu interesse é, contudo, muito terra-a-terra: que MRS seja o cabeça de lista às Europeias 2009 pelo PSD porque me parece o melhor para o PSD e para o país. Desesperantemente simples e ingénuo da minha parte? Talvez, mas não desisto de ser assim: defendo aquilo em que acredito. ;-)
2) As notícias. Houve notícias mal feitas, tendenciosas ou descuidadas? Houve. Isso retira algum valor à petição? Não. Mais uma vez, apenas sei o que _eu_ faço: não pressionei jornais nem tentei passar nenhuma imagem falsa (até porque não teria capacidade de influência para isso). Haverá quem o tenha feito? Acho altamente provável que sim. A responsabilidade disso é de quem o fez. Tentar atribuir-me a mim (pequenino no meio disto tudo), ao Vasco Campilho, a Pedro Passos Coelho, ou a quem quiser, intenções muito rebuscadas é entrar na mesma espiral de conspiração que JPP critica. Está no seu direito, mas para "teorias da cabala" já me chegam as do PS.
3) A sua afirmação a respeito das assinaturas, "quase todas oriundas dos próprios autores dos blogues que apoiaram a iniciativa", é evidentemente errada. Não há assim tantos blogs nem autores de blogs a apoiar MRS (ainda, pelo menos) ;-)
4) Por último, se eu quisesse entrar no mesmo estilo que utiliza no seu post de hoje, diria que a referência a "confissões" de "um seu autor" (que presumo seja eu) foi cuidadosamente redigida para induzir em erro os seus leitores. Não acredito que assim tenha sido, mas que se tratou apenas fruto da interpretação criativa (mas sincera, creio) que JPP faz dos factos que observa. Esclareço então. Não procurei autorização de ninguém para participar nesta iniciativa, pois não respondo perante nenhum "superior" na minha intervenção pública. Escutei, directa e indirectamente, opiniões alheias sobre as vantagens e inconvenientes desta iniciativa para o fim em causa (lembrando: eleger MRS para o PE!) atendendo também ao meu passado de intervenção cívica em várias frentes (por exemplo no blog A Baixa do Porto, entre muitas outras que são públicas, desde a Política à Religião). Deduzir que essas minhas consultas são, afinal, a origem da iniciativa é, concordará comigo, abusivo. Interpretações políticas mais elaboradas sobre opiniões, posições, apoios ou ausência deles, já devem ficar a cargo de analistas e comentadores prestigiados como o JPP, mais conhecedores do que eu de cabalas e ciências ocultas. ;-)
No meio disto tudo, parece esquecer-se o essencial: Marcelo Rebelo de Sousa é ou não é uma boa escolha? Quer dar a sua opinião, em vez de se limitar a analisar o pequeno mundo das intrigas?
Saudações (igualmente laranjas, não se esqueça)!
Tiago Azevedo Fernandes
2009/03/03
Ai, isto da Democracia é muito aborrecido
Há dias resolvi recordar tempos da adolescência e fazer uma crítica bem humorada ao novo site destinado ao culto da imagem de José Sócrates. O PS resolveu prescindir do registo do endereço escrito em português correcto, que é sócrates2009.com, com acento, e ficou-se pelo socrates2009.com, em "português técnico". Por isso adquiri eu o primeiro deles e lá me diverti a fazer a página, devidamente assinada. A brincar também se dizem coisas sérias, com responsabilidade.
Pois não é que há quem tenha achado abusivo? E, mais curiosamente, que tenha até agora censurado os dois comentários que eu lá deixei, mas que entretanto tenha já publicado um outro, alheio, mais amigável? Aqui deixo, assim, aquilo que gostaria de ter visto aceite naquele blog.
---
Meu caro, fui de facto eu o autor. O site está assinado e pode ser confirmado pelo registo do domínio. Escolhi aquele endereço, tal como lá está explicado, porque o PS não mostrou interesse nele. No site não há insinuações, há manifestações claras de discordância perante a actuação do Governo e, em particular, do PM. Sócrates tem obrigações de comportamento e de coerência que estão implícitas ao aceitar o cargo de PM.
Eu sou militante de base do PSD, mas reservo-me o direito de manifestar a minha opinião individual sem que isso implique nenhuma vinculação das entidades que “linko” nos posts que escrevo ou nos sites que faço. Senão, estariam com aquele site vinculados o PSD, a Construir Ideias e o próprio PS. A minha capacidade de influência, infelizmente, não chega para tanto. ;-)
Eu percebo que a crítica seja incómoda mas, caríssimo, a democracia é assim mesmo. Esta crítica, ao menos, não é anónima. :-)
---
Acabei de acrescentar ao site um link para recovery.gov. Agora já se pode acrescentar com propriedade : "não se percebendo concretamente qual o papel de Barack Obama em mais este ataque" ;-)
---
Post scriptum: Pronto, já foi publicado. Mais vale tarde que nunca!
Pois não é que há quem tenha achado abusivo? E, mais curiosamente, que tenha até agora censurado os dois comentários que eu lá deixei, mas que entretanto tenha já publicado um outro, alheio, mais amigável? Aqui deixo, assim, aquilo que gostaria de ter visto aceite naquele blog.
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Meu caro, fui de facto eu o autor. O site está assinado e pode ser confirmado pelo registo do domínio. Escolhi aquele endereço, tal como lá está explicado, porque o PS não mostrou interesse nele. No site não há insinuações, há manifestações claras de discordância perante a actuação do Governo e, em particular, do PM. Sócrates tem obrigações de comportamento e de coerência que estão implícitas ao aceitar o cargo de PM.
Eu sou militante de base do PSD, mas reservo-me o direito de manifestar a minha opinião individual sem que isso implique nenhuma vinculação das entidades que “linko” nos posts que escrevo ou nos sites que faço. Senão, estariam com aquele site vinculados o PSD, a Construir Ideias e o próprio PS. A minha capacidade de influência, infelizmente, não chega para tanto. ;-)
Eu percebo que a crítica seja incómoda mas, caríssimo, a democracia é assim mesmo. Esta crítica, ao menos, não é anónima. :-)
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Acabei de acrescentar ao site um link para recovery.gov. Agora já se pode acrescentar com propriedade : "não se percebendo concretamente qual o papel de Barack Obama em mais este ataque" ;-)
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Post scriptum: Pronto, já foi publicado. Mais vale tarde que nunca!
2009/02/17
Casamentos e uniões
No debate sobre o "casamento" entre pessoas do mesmo sexo, a questão fundamental é:
A união homossexual deve ter _todos_ os direitos e deveres exactamente iguais aos da heterossexual?
Basta aceitarmos que há diferenças na natureza da união, sejam elas quais forem, para dizer que os direitos/deveres devem ser também diferentes (daí o contrato não ser "casamento"). O que está em causa é o princípio geral da igualdade absoluta, não cada um dos direitos/deveres analisados em particular.
A diferença da natureza da união torna-se mais clara quando se testam os argumentos a favor da igualdade na sua aplicação a uniões poligâmicas ou incestuosas, onde falham de forma talvez mais evidente. Sou a favor de que sejam permitidas e reconhecidas uniões "não convencionais" (mesmo estas últimas, no âmbito da liberdade da vida privada de pessoas adultas), mas sem que lhes sejam atribuídas legalmente exactamente as mesmas características dos casamentos convencionais.
(Em 2004 escrevi Tradições e temas complexos, onde já referia este assunto.)
PS - textos interessantes:
- O fim do casamento
- Dúvida razoável
- Algumas notas esparsas sobre o Prós & Contras de ontem
- Fighting for framing
A união homossexual deve ter _todos_ os direitos e deveres exactamente iguais aos da heterossexual?
Basta aceitarmos que há diferenças na natureza da união, sejam elas quais forem, para dizer que os direitos/deveres devem ser também diferentes (daí o contrato não ser "casamento"). O que está em causa é o princípio geral da igualdade absoluta, não cada um dos direitos/deveres analisados em particular.
A diferença da natureza da união torna-se mais clara quando se testam os argumentos a favor da igualdade na sua aplicação a uniões poligâmicas ou incestuosas, onde falham de forma talvez mais evidente. Sou a favor de que sejam permitidas e reconhecidas uniões "não convencionais" (mesmo estas últimas, no âmbito da liberdade da vida privada de pessoas adultas), mas sem que lhes sejam atribuídas legalmente exactamente as mesmas características dos casamentos convencionais.
(Em 2004 escrevi Tradições e temas complexos, onde já referia este assunto.)
PS - textos interessantes:
- O fim do casamento
- Dúvida razoável
- Algumas notas esparsas sobre o Prós & Contras de ontem
- Fighting for framing
2008/09/24
O sistema financeiro
Warren Buffett, em 2003, (e antes dele também outros) não se limitou a falar em “time bombs” e em “financial weapons of mass destruction”, explicou também tudo muito bem explicadinho, com exemplos. A carta aos accionistas da Berkshire Hathaway teve grande divulgação na altura. Como foi possível que os especialistas tivessem deixado a situação chegar a este ponto? Onde estavam as autoridades e os reguladores? Há inúmeras maneiras de ver que algo de muito grave iria acontecer. Se olhando por exemplo para a emissão pirata de moeda (um dos vários pontos de vista complementares que existem) até eu, que não sou da área, consigo entender o buraco em que o sistema se meteu, o que se passou com quem é profissional do ramo? Deixou andar? Ou pura e simplesmente não percebeu a realidade onde estava inserido?
Há uma medida simples que evitaria muitos problemas: impor critérios contabilísticos mais conservadores, prudentes, que não aceitem que se registem como mais-valias todas as ficções que agora são permitidas. Aliás, a raiz do problema está mesmo aí: contabilidade permissiva e irracional, além de pouco auditada na prática porque com a "sofisticação" actual se tornou impossível seguir o rasto ao dinheiro e aos riscos.
Há uma medida simples que evitaria muitos problemas: impor critérios contabilísticos mais conservadores, prudentes, que não aceitem que se registem como mais-valias todas as ficções que agora são permitidas. Aliás, a raiz do problema está mesmo aí: contabilidade permissiva e irracional, além de pouco auditada na prática porque com a "sofisticação" actual se tornou impossível seguir o rasto ao dinheiro e aos riscos.
2008/09/21
A emissão pirata de moeda
Este caso do estudo das cheias relatado aqui pelo Alexandre Burmester convenceu-me a escrever este texto, que comporta algum risco porque vou tratar de assuntos nos quais não sou especializado. Trata-se desta enorme confusão que vai nos mercados financeiros, e que provou que afinal a esmagadora maioria dos especialistas não percebeu nada do que se estava a passar. Pior que isso, essa gente não se inibe de continuar a opinar como se não lhe tivessem passado ao lado enormes fragilidades e irracionalidades no sistema financeiro, com as quais supostamente contactariam todos os dias! Tal como nas cheias, também no sistema financeiro não podemos confiar nos especialistas.
Tirando algumas figuras que merecem respeito porque há muito avisaram quanto ao que aí vinha, como Warren Buffett ou George Soros, quase todos os outros se limitam a citar autores famosos e a mostrar grande erudição (certamente muito maior que a minha, pelo menos neste campo), mas sem que isso lhes tenha trazido grandes resultados. Por isso vou tentar eu explicar à minha maneira, partindo daquilo que observo e sobre o qual reflicto, alguns aspectos que me parecem relevantes. No que escrevo a seguir vou fazer algumas simplificações, ignorando fenómenos de segunda ordem, para que a exposição se torne mais compreensível. Perdoar-me-ão também se não utilizar a terminologia técnica mais adequada, pois não sou um virtuoso em macroeconomia e finanças, mas espero que se compreendam quais os conceitos aos quais faço referência. Peço a quem considerar errada a minha opinião (que já comecei a tentar explicar nos comentários a posts no Insurgente e também um pouco no Norteamos) que tenha a caridade de me explicar claramente, e concretamente, em quê e porquê, sem se refugiar em referências ou conceitos exóticos. Eu só percebo coisas simples. (Ao que se vê, os especialistas parece que nem isso...)
O dinheiro, como se sabe, é uma convenção. Baseia-se na confiança da sociedade, como um todo, no "sistema". O dinheiro hoje em dia já não é sequer uma representação de uma reserva de ouro que existe algures num cofre-forte. Por isso os bancos centrais podem imprimir notas, criando efectivamente moeda a partir do zero. Apesar de à primeira vista esta "magia" parecer muito estranha, compreende-se por que razão ela funciona e quais as consequências do seu mau uso. Sem grande tempo para procurar referências, encontrei contudo dois pequenos textos que se referem a isto e que podem ajudar quem nunca tinha pensado no tema.
O conceito de "dinheiro" que me interessa agora é bastante lato, juntando aquele que aqui cabe na classe "M3" com acções cotadas em bolsa e similares (explico porquê abaixo). Acontece que, ao contrário do que pensa a maioria das pessoas (e possivelmente os tais especialistas), não são apenas os bancos centrais que "emitem moeda". Na economia há outros* mecanismos que são exactamente equivalentes à emissão de moeda e também à sua retirada do sistema. Dividi-los-ia em dois tipos: o "Bom" e o "Mau".
O "Bom" é aquele correspondente à criação real de riqueza e explica-se bem com um exemplo simplificado. Vamos imaginar que a Ana cria uma empresa que é cotada em bolsa. O património dessa empresa é constituído pelas esculturas dela, e cada acção começa por valer 1 euro, havendo 1000 acções no total. Se a Ana, trabalhando na empresa sem contrapartida financeira nenhuma, for criando mais esculturas, o património da empresa vai aumentando e portanto o valor de cada acção vai também subindo. Ao fim de algum tempo supostamente valeria 10 euros (no sentido de que só seria vendida por esse preço). Como não houve nenhuma entrada de dinheiro, por causa disto de facto o mundo ficou mais rico 9 euros por acção da empresa da Ana. Ou seja, há mais 9000 euros na massa monetária total, correspondentes a algo real que foi "criado do nada". Essa riqueza ficou na posse dos detentores das acções, e tudo o resto no mundo se manteve inalterado. Moral da história: a Ana efectivamente "emitiu moeda" no montante de 9000 euros. (O caso oposto, de retirada de circulação de moeda, seria destruir-se uma escultura, por exemplo, diminuindo o valor das acções.)
O "Mau" também se apresenta com outro exemplo simplista. Eu compro em bolsa uma acção X (de uma empresa qualquer) a 1 euro. Pago em dinheiro vivo, mesmo. Um amigo meu, combinado comigo, faz semelhante: compra uma acção Y a 1 euro, também paga cash. Imaginemos depois que durante um período não há mais transacções destas acções em bolsa a não ser as que eu e o meu amigo realizamos. Eu vendo-lhe a minha X por 2 euros e ele paga-me com a dele Y que diz valer também 2 euros (e eu acredito). Eu fiquei portanto com uma Y “a valer 2″ e ele com uma X “a valer 2″. Mais tarde vendo-lhe de volta a Y, mas por 4 euros. E ele paga-me com a X que supostamente já vale também 4. Quer eu quer ele quadruplicamos o nosso investimento inicial: eu tenho uma X que supostamente vale 4 euros, e ele uma Y que supostamente vale 4 euros. Sem qualquer contrapartida financeira nem geração de "riqueza real" (ao contrário do caso da Ana), também aqui "emitimos moeda" e ficámos com ela para nós. (No mundo real isto não se passa apenas com duas pessoas, o que acontece é que há negócios "em circuito fechado" entre muitas.)
Repare-se que até se pode transformar esse valor das acções em cash: eu posso ir ao banco pedir um empréstimo** de 4 euros, dando como garantia a minha acção. O banco, todo contente, passa-me o dinheiro para a conta à ordem com base na cotação actual. O Pedro Menezes Simões explica aqui (comentário 10) que "os bancos podem utilizar acções, de forma parcial, como componente dos rácios de capital que têm que manter (e que são uma componente relevante na capacidade multiplicadora de dinheiro dos bancos). Pelo que, se as acções sobem, os bancos conseguem multiplicar mais o dinheiro. E quando descem reduz-se a sua capacidade de multiplicação do dinheiro (ups, é preciso fazer aumentos de capital, i.e., ir buscar dinheiro "vivo")".
Esta capacidade multiplicadora dos bancos é criação de moeda aceite pelas autoridades monetárias. Como o valor das acções pode ser facilmente convertido em cash através de empréstimos bancários garantidos por essas mesmas acções (mesmo que não a 100%), é como se a moeda “virtualmente” já existisse. (Neste caso não é importante determinar com exactidão a quantidade de moeda, mas apenas se há ou não criação, e ter uma ideia rude de quanto é.)
Por que é que o "dinheiro mau" é mau? O caso é igual à emissão de moeda por um banco central. Quando há mais dinheiro a circular mas não se gerou "riqueza real", há inflação. Por outras palavras, o que existe disponível para ser comprado é o mesmo, só que há mais dinheiro: logo, os preços aumentam. Contudo, ao contrário do que se passa quando é o banco central a emitir, neste caso há efectivamente uma apropriação de riqueza por parte destes "emissores privados de moeda". É "enriquecimento sem causa", é um roubo puro e simples ao resto da sociedade. Já o caso da Ana era saudável: ela emitiu moeda mas não provocou inflação porque, além da moeda, introduziu no sistema o valor correspondente: as suas obras de escultura.
O que se estava a passar no sistema financeiro, em larguíssima escala, era entre outras coisas também isto: emissão privada de moeda em operações financeiras sofisticadas (sem introdução de dinheiro fresco no sistema nem criação de riqueza, portanto). Estava uma minoria a roubar uma vasta maioria. Tinha de acabar mal.
A ver pela reacção completamente irresponsável das bolsas na Sexta-feira passada, com uma subida louca e insustentável, o mercado não terá percebido isto. Da maneira que as coisas estão no Porto e no Norte, se os impactos são graves em regiões comparativamente ricas, vai ser muito pior aqui. Preparemo-nos.
--
* Um outro exemplo de "emissão de moeda" é a atribuição de capacidade construtiva a terrenos, conforme explica por exemplo Sidónio Pardal.
** Note-se que, ao contrário do que se escreve aqui, na prática a emissão de moeda não se dá apenas no momento da concessão de crédito bancário. O simples facto de o mercado reconhecer um valor acrescido "surgido do nada" já consuma a "emissão de moeda", pois esse património é desde logo negociável.
Apontadores interessantes:
- Buffett warns on investment 'time bomb' em 2003!
- To the Shareholders of Berkshire Hathaway Inc. (a carta de 2003, ler a partir da página 13)
(Publicado originalmente n'A Baixa do Porto.)
Tirando algumas figuras que merecem respeito porque há muito avisaram quanto ao que aí vinha, como Warren Buffett ou George Soros, quase todos os outros se limitam a citar autores famosos e a mostrar grande erudição (certamente muito maior que a minha, pelo menos neste campo), mas sem que isso lhes tenha trazido grandes resultados. Por isso vou tentar eu explicar à minha maneira, partindo daquilo que observo e sobre o qual reflicto, alguns aspectos que me parecem relevantes. No que escrevo a seguir vou fazer algumas simplificações, ignorando fenómenos de segunda ordem, para que a exposição se torne mais compreensível. Perdoar-me-ão também se não utilizar a terminologia técnica mais adequada, pois não sou um virtuoso em macroeconomia e finanças, mas espero que se compreendam quais os conceitos aos quais faço referência. Peço a quem considerar errada a minha opinião (que já comecei a tentar explicar nos comentários a posts no Insurgente e também um pouco no Norteamos) que tenha a caridade de me explicar claramente, e concretamente, em quê e porquê, sem se refugiar em referências ou conceitos exóticos. Eu só percebo coisas simples. (Ao que se vê, os especialistas parece que nem isso...)
O dinheiro, como se sabe, é uma convenção. Baseia-se na confiança da sociedade, como um todo, no "sistema". O dinheiro hoje em dia já não é sequer uma representação de uma reserva de ouro que existe algures num cofre-forte. Por isso os bancos centrais podem imprimir notas, criando efectivamente moeda a partir do zero. Apesar de à primeira vista esta "magia" parecer muito estranha, compreende-se por que razão ela funciona e quais as consequências do seu mau uso. Sem grande tempo para procurar referências, encontrei contudo dois pequenos textos que se referem a isto e que podem ajudar quem nunca tinha pensado no tema.
O conceito de "dinheiro" que me interessa agora é bastante lato, juntando aquele que aqui cabe na classe "M3" com acções cotadas em bolsa e similares (explico porquê abaixo). Acontece que, ao contrário do que pensa a maioria das pessoas (e possivelmente os tais especialistas), não são apenas os bancos centrais que "emitem moeda". Na economia há outros* mecanismos que são exactamente equivalentes à emissão de moeda e também à sua retirada do sistema. Dividi-los-ia em dois tipos: o "Bom" e o "Mau".
O "Bom" é aquele correspondente à criação real de riqueza e explica-se bem com um exemplo simplificado. Vamos imaginar que a Ana cria uma empresa que é cotada em bolsa. O património dessa empresa é constituído pelas esculturas dela, e cada acção começa por valer 1 euro, havendo 1000 acções no total. Se a Ana, trabalhando na empresa sem contrapartida financeira nenhuma, for criando mais esculturas, o património da empresa vai aumentando e portanto o valor de cada acção vai também subindo. Ao fim de algum tempo supostamente valeria 10 euros (no sentido de que só seria vendida por esse preço). Como não houve nenhuma entrada de dinheiro, por causa disto de facto o mundo ficou mais rico 9 euros por acção da empresa da Ana. Ou seja, há mais 9000 euros na massa monetária total, correspondentes a algo real que foi "criado do nada". Essa riqueza ficou na posse dos detentores das acções, e tudo o resto no mundo se manteve inalterado. Moral da história: a Ana efectivamente "emitiu moeda" no montante de 9000 euros. (O caso oposto, de retirada de circulação de moeda, seria destruir-se uma escultura, por exemplo, diminuindo o valor das acções.)
O "Mau" também se apresenta com outro exemplo simplista. Eu compro em bolsa uma acção X (de uma empresa qualquer) a 1 euro. Pago em dinheiro vivo, mesmo. Um amigo meu, combinado comigo, faz semelhante: compra uma acção Y a 1 euro, também paga cash. Imaginemos depois que durante um período não há mais transacções destas acções em bolsa a não ser as que eu e o meu amigo realizamos. Eu vendo-lhe a minha X por 2 euros e ele paga-me com a dele Y que diz valer também 2 euros (e eu acredito). Eu fiquei portanto com uma Y “a valer 2″ e ele com uma X “a valer 2″. Mais tarde vendo-lhe de volta a Y, mas por 4 euros. E ele paga-me com a X que supostamente já vale também 4. Quer eu quer ele quadruplicamos o nosso investimento inicial: eu tenho uma X que supostamente vale 4 euros, e ele uma Y que supostamente vale 4 euros. Sem qualquer contrapartida financeira nem geração de "riqueza real" (ao contrário do caso da Ana), também aqui "emitimos moeda" e ficámos com ela para nós. (No mundo real isto não se passa apenas com duas pessoas, o que acontece é que há negócios "em circuito fechado" entre muitas.)
Repare-se que até se pode transformar esse valor das acções em cash: eu posso ir ao banco pedir um empréstimo** de 4 euros, dando como garantia a minha acção. O banco, todo contente, passa-me o dinheiro para a conta à ordem com base na cotação actual. O Pedro Menezes Simões explica aqui (comentário 10) que "os bancos podem utilizar acções, de forma parcial, como componente dos rácios de capital que têm que manter (e que são uma componente relevante na capacidade multiplicadora de dinheiro dos bancos). Pelo que, se as acções sobem, os bancos conseguem multiplicar mais o dinheiro. E quando descem reduz-se a sua capacidade de multiplicação do dinheiro (ups, é preciso fazer aumentos de capital, i.e., ir buscar dinheiro "vivo")".
Esta capacidade multiplicadora dos bancos é criação de moeda aceite pelas autoridades monetárias. Como o valor das acções pode ser facilmente convertido em cash através de empréstimos bancários garantidos por essas mesmas acções (mesmo que não a 100%), é como se a moeda “virtualmente” já existisse. (Neste caso não é importante determinar com exactidão a quantidade de moeda, mas apenas se há ou não criação, e ter uma ideia rude de quanto é.)
Por que é que o "dinheiro mau" é mau? O caso é igual à emissão de moeda por um banco central. Quando há mais dinheiro a circular mas não se gerou "riqueza real", há inflação. Por outras palavras, o que existe disponível para ser comprado é o mesmo, só que há mais dinheiro: logo, os preços aumentam. Contudo, ao contrário do que se passa quando é o banco central a emitir, neste caso há efectivamente uma apropriação de riqueza por parte destes "emissores privados de moeda". É "enriquecimento sem causa", é um roubo puro e simples ao resto da sociedade. Já o caso da Ana era saudável: ela emitiu moeda mas não provocou inflação porque, além da moeda, introduziu no sistema o valor correspondente: as suas obras de escultura.
O que se estava a passar no sistema financeiro, em larguíssima escala, era entre outras coisas também isto: emissão privada de moeda em operações financeiras sofisticadas (sem introdução de dinheiro fresco no sistema nem criação de riqueza, portanto). Estava uma minoria a roubar uma vasta maioria. Tinha de acabar mal.
A ver pela reacção completamente irresponsável das bolsas na Sexta-feira passada, com uma subida louca e insustentável, o mercado não terá percebido isto. Da maneira que as coisas estão no Porto e no Norte, se os impactos são graves em regiões comparativamente ricas, vai ser muito pior aqui. Preparemo-nos.
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* Um outro exemplo de "emissão de moeda" é a atribuição de capacidade construtiva a terrenos, conforme explica por exemplo Sidónio Pardal.
** Note-se que, ao contrário do que se escreve aqui, na prática a emissão de moeda não se dá apenas no momento da concessão de crédito bancário. O simples facto de o mercado reconhecer um valor acrescido "surgido do nada" já consuma a "emissão de moeda", pois esse património é desde logo negociável.
Apontadores interessantes:
- Buffett warns on investment 'time bomb' em 2003!
- To the Shareholders of Berkshire Hathaway Inc. (a carta de 2003, ler a partir da página 13)
(Publicado originalmente n'A Baixa do Porto.)
2008/09/05
Os "grandes" arquitectos
O problema de alguns famosos arquitectos, como Siza Vieira, Souto Moura, e outros (já sem falar em grandes estrelas estrangeiras) é que vivem num mundo ideal que não existe! E pensam as suas obras para esse mundo, esquecendo que depois, na realidade, o uso que as pessoas dão ao espaço não é compatível com os “princípios de pureza” que eles gostariam de ver respeitados. E as coisas correm mal…
Um bom arquitecto tem de projectar os espaços para que as pessoas se sintam bem neles (mesmo que precisem de algum tempo de habituação). Não é o caso da generalidade dos trabalhos, por exemplo, de Siza Vieira. Ele quer impor a sua obra mesmo que tenha de ser contra a vontade dos utilizadores. No caso concreto da Avenida dos Aliados no Porto, que poderia ser extrapolado para outros, verifica-se que o resultado final real, com o uso que acaba por ter (barraquinhas, etc.) é mau. Significa isto que o conjunto arquitecto + Câmara + povo não foi capaz de se entender. E, do ponto de vista do arquitecto, significa consequentemente que ele, sabendo a autarquia e o povo que tem, não conseguiu obter uma solução que funcionasse bem. Falhou a sua tarefa de arquitecto.
Um bom arquitecto tem de projectar os espaços para que as pessoas se sintam bem neles (mesmo que precisem de algum tempo de habituação). Não é o caso da generalidade dos trabalhos, por exemplo, de Siza Vieira. Ele quer impor a sua obra mesmo que tenha de ser contra a vontade dos utilizadores. No caso concreto da Avenida dos Aliados no Porto, que poderia ser extrapolado para outros, verifica-se que o resultado final real, com o uso que acaba por ter (barraquinhas, etc.) é mau. Significa isto que o conjunto arquitecto + Câmara + povo não foi capaz de se entender. E, do ponto de vista do arquitecto, significa consequentemente que ele, sabendo a autarquia e o povo que tem, não conseguiu obter uma solução que funcionasse bem. Falhou a sua tarefa de arquitecto.
2008/09/04
Mais alguns textos publicados n'A Baixa do Porto
2008-07-23: Indústrias Criativas
2008-07-22: As minhas sugestões para o Aleixo
2008-07-16: Nuclear: sempre os mesmos erros...
2008-07-12: Regionalização: a ilusão de consenso
2008-07-02: Os bancos e a reabilitação urbana
2008-06-23: Os cidadãos e os partidos
2008-05-25: O PSD e o Porto
2008-05-08: Certificação opcional, em vez de requisitos técnicos obrigatórios
2008-03-23: Carta ao Bispo do Porto
2008-02-29: Artur Santos Silva na Câmara do Porto
2008-02-16: Brevíssimas notas sobre o Bolhão
2008-07-22: As minhas sugestões para o Aleixo
2008-07-16: Nuclear: sempre os mesmos erros...
2008-07-12: Regionalização: a ilusão de consenso
2008-07-02: Os bancos e a reabilitação urbana
2008-06-23: Os cidadãos e os partidos
2008-05-25: O PSD e o Porto
2008-05-08: Certificação opcional, em vez de requisitos técnicos obrigatórios
2008-03-23: Carta ao Bispo do Porto
2008-02-29: Artur Santos Silva na Câmara do Porto
2008-02-16: Brevíssimas notas sobre o Bolhão
2008/06/08
O Tratado de Lisboa
Espero que os irlandeses votem NÃO. Independentemente de as alterações trazidas pelo Tratado serem positivas ou negativas, há dois motivos suficientemente fortes para o recusar sem olhar para mais nada:
- terem-nos negado a possibilidade de o votar, sob vários pretextos;
- a extensão e enorme confusão do texto, um amontoado de artigos sem qualquer preocupação de se tornar legível.
2008/06/06
De novo as touradas
Não terá certamente contestação a afirmação de que, numa tourada, o touro está a ser maltratado, colocado em sofrimento. Perante isto, há duas posições:
Os defensores da tourada (que admito sejam bem intencionados, não é essa a questão), atribuem ao touro sentimentos humanos, projectam no touro aquilo que imaginam uma pessoa sentiria se estivesse no lugar dele. O problema é que o touro não é uma pessoa!
O touro não tem interesse na luta com o homem. O touro foi apenas levado para a arena e tenta defender-se num ambiente hostil. O touro não se sente honrado por lá estar, não tem orgulho no combate, não pensa como um humano. O touro é um mamífero com alguma inteligência, tal como um cão ou um gato. E, como qualquer mamífero, sofre com medo, com stress, e quando lhe espetam ferros na carne. O resto, o "prazer psicológico" do combate, não existe a não ser na imaginação do toureiro e dos espectadores.
- esses maus-tratos justificam-se atendendo à "tradição", à "cultura", à "arte";
- esses maus-tratos não se justificam.
Os defensores da tourada (que admito sejam bem intencionados, não é essa a questão), atribuem ao touro sentimentos humanos, projectam no touro aquilo que imaginam uma pessoa sentiria se estivesse no lugar dele. O problema é que o touro não é uma pessoa!
O touro não tem interesse na luta com o homem. O touro foi apenas levado para a arena e tenta defender-se num ambiente hostil. O touro não se sente honrado por lá estar, não tem orgulho no combate, não pensa como um humano. O touro é um mamífero com alguma inteligência, tal como um cão ou um gato. E, como qualquer mamífero, sofre com medo, com stress, e quando lhe espetam ferros na carne. O resto, o "prazer psicológico" do combate, não existe a não ser na imaginação do toureiro e dos espectadores.
2008/05/29
Alguns textos para "O Futuro é agora"
PPC e nós todos
Se uma das regras é falarmos verdade...
Política 2.0
O significado das palavras e o papel do líder
Uma campanha construtiva
Regionalização: muitas vozes, poucas propostas
Formação e actividade produtiva
O lado positivo das coisas
Três pedidos...
O País real
Domar o Estado
Coisas que o Partido Socialista não percebe
Mais coisas que o Partido Socialista não percebe
As "Opções Estratégicas"
Movimento de Mudança
Combustíveis: cabeça fria para preços quentes
A mãe severa e os órfãos desvalidos
Que ministérios se devem manter?
O que é que eu quero
O valor da experiência
Se uma das regras é falarmos verdade...
Política 2.0
O significado das palavras e o papel do líder
Uma campanha construtiva
Regionalização: muitas vozes, poucas propostas
Formação e actividade produtiva
O lado positivo das coisas
Três pedidos...
O País real
Domar o Estado
Coisas que o Partido Socialista não percebe
Mais coisas que o Partido Socialista não percebe
As "Opções Estratégicas"
Movimento de Mudança
Combustíveis: cabeça fria para preços quentes
A mãe severa e os órfãos desvalidos
Que ministérios se devem manter?
O que é que eu quero
O valor da experiência
2008/02/18
Textos escritos n'A Baixa do Porto
Deixo aqui os apontadores para algumas reflexões que publiquei n'A Baixa do Porto.
2008-02-15: A solução para os problemas do Porto
2007-11-21: Por que razão é racional e potencialmente lucrativo investir em projectos que provavelmente vão falhar
2007-11-25: Abandonar a União Europeia?
2007-09-29: Partidos: Representatividade
2007-03-04: Câmara do Porto 2009: Posso dar as tácticas?
2007-02-23: Um dos mitos da Reabilitação Urbana - “um bom negócio encontra sempre investidores”
2007-12-01: As minhas fotografias
2008-02-15: A solução para os problemas do Porto
2007-11-21: Por que razão é racional e potencialmente lucrativo investir em projectos que provavelmente vão falhar
2007-11-25: Abandonar a União Europeia?
2007-09-29: Partidos: Representatividade
2007-03-04: Câmara do Porto 2009: Posso dar as tácticas?
2007-02-23: Um dos mitos da Reabilitação Urbana - “um bom negócio encontra sempre investidores”
2007-12-01: As minhas fotografias
2008/01/10
O Tratado de Lisboa: Democracia podre
A questão do referendo ao Tratado de Lisboa é mesmo muito séria, porque abala as bases da Democracia. O Governo, o Presidente da República e a Assembleia da República, todos eles, violaram gravemente os seus deveres constitucionalmente estabelecidos. Explico porquê.
Quando um Governo nasce do resultado de um acto eleitoral, e na sequência da apresentação do seu programa que foi validado pelos eleitores, é seu dever aplicá-lo. Atendendo a que o mundo está em permanente mudança e que ninguém tem a capacidade de prever o futuro com rigor absoluto, aceita-se que a prática seja diferente do previsto no programa, precisamente para a ajustar às novas situações. Mas é preciso que as situações sejam de facto novas, e que as alterações ao programa sejam as mínimas indispensáveis.
Um exemplo caricatural: imaginemos que um partido ganhava com maioria absoluta depois de ter prometido baixar os impostos para metade e subir as pensões de reforma para o dobro. No primeiro dia de Governo, contudo, fazia exactamente o contrário: os impostos subiam para o dobro e as pensões desciam para metade. Qual era o dever do Presidente da República? Demitir imediatamente o Governo, dissolver a AR e convocar novas eleições.
Os eleitos têm de perceber que são representantes do povo, não são "encarregados de educação" do povo. Se se apresentam com um conjunto de ideias que é sufragado pela população, é isso que devem concretizar. Não têm mandato para tomar decisões estruturais que nunca foram propostas nem votadas, a menos que as circunstâncias fossem completamente novas e a urgência impeditiva de uma consulta popular. No caso deste referendo, nem uma coisa nem outra.
Sublinho que o que aqui está em causa não é saber se o Tratado de Lisboa é bom ou é mau, mas sim se é legítimo (invocando o interesse nacional, ou o interesse europeu, ou a ignorância da população, ou a complexidade do tratado, ou seja lá o que for...) evitar um referendo porque se receia que o respectivo resultado seja negativo! É a subversão total da Democracia!
É evidente que em Democracia os resultados do voto popular nem sempre são aquilo que cada um de nós, individualmente, consideraria o mais sensato. Mas essa é a essência da Democracia! Ninguém tem o direito de aproveitar o facto de ter sido eleito para, depois disso, fazer tudo o que lhe apetece. É esse, aliás, o mal também de Rui Rio no Porto (em alguns aspectos tristemente parecido com Sócrates).
Se o referendo a um "Tratado Constitucional" foi prometido antes das eleições, não há razão válida para suprimi-lo no caso deste "Tratado de Lisboa". Ponto final.
O que agora me parece indispensável, à luz destes princípios, é invocar a inconstitucionalidade da decisão de ratificar o tratado no Parlamento, e levar o caso ao Tribunal Constitucional. E também convém não nos esquecermos de quem são os responsáveis por este abuso do sistema, quando formos votar da próxima vez.
Quando um Governo nasce do resultado de um acto eleitoral, e na sequência da apresentação do seu programa que foi validado pelos eleitores, é seu dever aplicá-lo. Atendendo a que o mundo está em permanente mudança e que ninguém tem a capacidade de prever o futuro com rigor absoluto, aceita-se que a prática seja diferente do previsto no programa, precisamente para a ajustar às novas situações. Mas é preciso que as situações sejam de facto novas, e que as alterações ao programa sejam as mínimas indispensáveis.
Um exemplo caricatural: imaginemos que um partido ganhava com maioria absoluta depois de ter prometido baixar os impostos para metade e subir as pensões de reforma para o dobro. No primeiro dia de Governo, contudo, fazia exactamente o contrário: os impostos subiam para o dobro e as pensões desciam para metade. Qual era o dever do Presidente da República? Demitir imediatamente o Governo, dissolver a AR e convocar novas eleições.
Os eleitos têm de perceber que são representantes do povo, não são "encarregados de educação" do povo. Se se apresentam com um conjunto de ideias que é sufragado pela população, é isso que devem concretizar. Não têm mandato para tomar decisões estruturais que nunca foram propostas nem votadas, a menos que as circunstâncias fossem completamente novas e a urgência impeditiva de uma consulta popular. No caso deste referendo, nem uma coisa nem outra.
Sublinho que o que aqui está em causa não é saber se o Tratado de Lisboa é bom ou é mau, mas sim se é legítimo (invocando o interesse nacional, ou o interesse europeu, ou a ignorância da população, ou a complexidade do tratado, ou seja lá o que for...) evitar um referendo porque se receia que o respectivo resultado seja negativo! É a subversão total da Democracia!
É evidente que em Democracia os resultados do voto popular nem sempre são aquilo que cada um de nós, individualmente, consideraria o mais sensato. Mas essa é a essência da Democracia! Ninguém tem o direito de aproveitar o facto de ter sido eleito para, depois disso, fazer tudo o que lhe apetece. É esse, aliás, o mal também de Rui Rio no Porto (em alguns aspectos tristemente parecido com Sócrates).
Se o referendo a um "Tratado Constitucional" foi prometido antes das eleições, não há razão válida para suprimi-lo no caso deste "Tratado de Lisboa". Ponto final.
O que agora me parece indispensável, à luz destes princípios, é invocar a inconstitucionalidade da decisão de ratificar o tratado no Parlamento, e levar o caso ao Tribunal Constitucional. E também convém não nos esquecermos de quem são os responsáveis por este abuso do sistema, quando formos votar da próxima vez.
2007/02/10
O Referendo, amanhã
A um dia do referendo, algumas notas adicionais.
1) Vale a pena lembrar que não foi a lei actual (boa ou má) a culpada de se manter o problema do aborto clandestino. Foi a incompetência do Estado, que também ainda não resolveu a burocracia, a corrupção, a fuga ao Fisco, etc., etc. Dizer que o mal é da lei é fugir ao problema. É que se o SIM for aprovado e o sistema de saúde também não der resposta (como é mais que provável), o problema continua a manter-se.
2) A ausência de penalização não é eficaz para o meu objectivo. Que todos queremos diminuir o aborto é evidente. Onde há diferenças é nos pesos da "função objectivo":
3) Há um "mundo virtual" que nos pretendem impingir em que as mulheres são TODAS, mas absolutamente todas, seres perfeitos que sabem sempre no seu íntimo o que é melhor, a tal ponto que até podem decidir da vida e morte do seu filho até às 10 semanas, porque certamente estará fora de causa fazê-lo por razões fracas. Isso não é a realidade. Se o mundo fosse assim não seriam precisas leis para nada, porque ninguém roubava, ninguém difamava, ninguém assassinava, ninguém burlava. Não existiam mães que matavam filhos, não existiam pais que violavam filhas. Era tudo harmonioso, porque os pais sabiam sempre o que era melhor para eles e para os filhos. Pois bem, eu não estou disposto a iludir-me com esse mundo virtual e votarei para que haja regras mínimas estabelecidas por lei para que alguém possa decidir da vida e da morte.
4) Ninguém tem de abortar na clandestinidade. Pode ser uma escolha muito condicionada, mas há sempre alternativa. O que acontece é que quem escolhe abortar considerou a alternativa pior do que o aborto clandestino. Mas nenhuma mulher é obrigada a abortar.
5) Melhor do que eu, uma apoiante moderada do SIM sintetisou no Blasfémias a minha posição: "cá para mim, a vida vale mais do que as vossas tretas todas". :-)
6) Dado o valor da vida em causa (mais uma vez: seja já "pessoa" ou não, não é especialmente relevante), eu não estou disposto a abdicar de regras mínimas impostas por lei para permitir terminar essa vida. É só isso. Voto NÃO.
1) Vale a pena lembrar que não foi a lei actual (boa ou má) a culpada de se manter o problema do aborto clandestino. Foi a incompetência do Estado, que também ainda não resolveu a burocracia, a corrupção, a fuga ao Fisco, etc., etc. Dizer que o mal é da lei é fugir ao problema. É que se o SIM for aprovado e o sistema de saúde também não der resposta (como é mais que provável), o problema continua a manter-se.
2) A ausência de penalização não é eficaz para o meu objectivo. Que todos queremos diminuir o aborto é evidente. Onde há diferenças é nos pesos da "função objectivo":
- a) eu quero diminuir o número total de abortos, mesmo que para isso as mulheres tenham que ser "perseguidas criminalmente";
- b) o SIM (e até algum NÃO) quer sujeitar esse objectivo a uma ponderação com a diminuição do aborto clandestino e evitando a "perseguição".
3) Há um "mundo virtual" que nos pretendem impingir em que as mulheres são TODAS, mas absolutamente todas, seres perfeitos que sabem sempre no seu íntimo o que é melhor, a tal ponto que até podem decidir da vida e morte do seu filho até às 10 semanas, porque certamente estará fora de causa fazê-lo por razões fracas. Isso não é a realidade. Se o mundo fosse assim não seriam precisas leis para nada, porque ninguém roubava, ninguém difamava, ninguém assassinava, ninguém burlava. Não existiam mães que matavam filhos, não existiam pais que violavam filhas. Era tudo harmonioso, porque os pais sabiam sempre o que era melhor para eles e para os filhos. Pois bem, eu não estou disposto a iludir-me com esse mundo virtual e votarei para que haja regras mínimas estabelecidas por lei para que alguém possa decidir da vida e da morte.
4) Ninguém tem de abortar na clandestinidade. Pode ser uma escolha muito condicionada, mas há sempre alternativa. O que acontece é que quem escolhe abortar considerou a alternativa pior do que o aborto clandestino. Mas nenhuma mulher é obrigada a abortar.
5) Melhor do que eu, uma apoiante moderada do SIM sintetisou no Blasfémias a minha posição: "cá para mim, a vida vale mais do que as vossas tretas todas". :-)
6) Dado o valor da vida em causa (mais uma vez: seja já "pessoa" ou não, não é especialmente relevante), eu não estou disposto a abdicar de regras mínimas impostas por lei para permitir terminar essa vida. É só isso. Voto NÃO.
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